Renata Viola Vives Psicanalista CRP 07/7619
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), os casais que não usam métodos contraceptivos durante doze meses e não conseguem engravidar podem ser considerados inférteis. Para mulheres acima de 35 anos, o recomendado é avaliação com seis meses de tentativas infrutíferas. Contudo, isso não nos fala do sofrimento dos indivíduos frente à impossibilidade de ter um filho.
Para muitos sujeitos a infertilidade vai surgir como uma ferida, que pode ou não ser metabolizada pelo ego, permanente e gritante. “Como não consigo engravidar, se consigo tudo o que quero? ”Terei que aceitar minhas limitações? Ou existem opções para mim?
A fecundação, como pré-requisito para a gravidez, é uma questão bastante complexa, tanto em termos físicos quanto psíquicos. Fecundação pressupõe fertilidade e esta ocorre em um período definido na vida de uma mulher, associando-se a processos somáticos que estão determinados fisiológica e anatomicamente. Estes processos somáticos são constantemente influenciados pelas vidas psíquica e orgânica.
Deutsch (1960), psicanalista que se dedicou a estudar as mulheres, afirmava que a infertilidade psicogênica pode ser algo complicado, pois sua causa inicial pode ser difícil de ser descoberta, uma vez que está sustentada por energias psíquicas. Porém, investigar os fatores orgânicos se torna necessário, uma vez que as dificuldades emocionais, para serem tratadas, não terão resultado satisfatório se o orgânico estiver comprometido.
Em alguns casos psicologicamente menos complicados, os sentimentos de culpa inconsciente são também causas para a esterilidade psicogênica: temos os medos em relação à morte no parto ou em relação à perda do filho, por exemplo.
Outro aspecto importante é que na tentativa de engravidar os casais podem ficar obrigados a monitorar o período fértil e isso pode levar o casal a deserotizar o ato amoroso, ato fecundo de encontro dos desejos, tornando esse encontro uma obrigação; podemos estar no campo da perda da erogenidade; faz-se necessária a retomada do desejo e do vínculo, mesmo que a concepção ocorra fora do corpo, por exemplo.
Por fim, precisamos pensar que a infertilidade requer uma atenção não só da equipe médica, mas dos profissionais da saúde mental, para ajudar indivíduos ou casais a refletirem sobre seus momentos próprios de vida e para conseguirem passar melhor por isso.