Publicado em 1774, «Os sofrimentos do jovem Werther» é um livro do escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe, grande expoente do Romantismo, movimento artístico e intelectual que reverencia o sentimento. A obra conta a história trágica de um rapaz que se mata depois de não ter o seu amor correspondido. Supostamente, o romance teria levado um grande número de pessoas a tirarem a própria vida após sua leitura, fragilizadas pelo drama fictício do protagonista. Esse fenômeno passou a ser denominado de efeito Werther, quando a ampla exposição de um suicídio desencadeia outros casos.
Sem dúvida, é necessário cuidado ao abordar a divulgação e a compreensão do comportamento suicida, o que não significa ignorar a questão. Ao contrário, é preciso se debruçar sobre ela com minúcia. Para além da estética da história e da escrita, «Os sofrimentos do jovem Werther» faz justamente isso, trazendo à cena um assunto tabu que muitos insistem em varrer para baixo do tapete. Em tempos de desrazão, esse fato por si só confere ao romance um valor inestimável.
Essa problemática tem recebido especial atenção nas últimas décadas. Em 1999, a Organização Mundial da Saúde (OMS) iniciou uma campanha global de prevenção do suicídio. No ano de 2003, foi promulgado o dia 10 de setembro como o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio pela International Association for Suicide Prevention. No Brasil, em 2015, foi criado pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) o Setembro Amarelo, movimento de conscientização sobre a importância de compreender e intervir no fenômeno.
Recentemente, é possível identificar o grande esforço, por parte de instituições e profissionais da saúde mental, em trazer à cena a discussão sobre o suicídio. Por se tratar de um fenômeno complexo e multifacetado, sua gravidade assombra o imaginário coletivo, o que frequentemente leva à dificuldade de aborda-lo, seja em âmbito público ou privado, leigo ou profissional. No entanto, falar constitui o primeiro passo para compreender o comportamento suicida, que urge, antes de qualquer coisa, ser escutado.
Frente à aceleração das mudanças que perpassam as gerações presentes e vindouras, os indivíduos têm cada vez menos tempo para refletir e se adaptar às transformações da cultura e construir uma identidade própria. Diante desse cenário, o que se vislumbra é a experiência da angústia de viver. Apesar dos obstáculos impostos a essa desafiadora tarefa, o trabalho de colocar em palavras a dor e, por vezes, o sentimento de impossibilidade de existir, se mostra
cada vez mais imprescindível, seja no divã ou na poltrona do consultório, seja no sofá de casa, com um livro à sua frente.
Adams Friedemann (CRP 07/31976)
Psicólogo (UFCSPA). Bacharel em Filosofia (PUCRS). Mestrando em Psicologia e Desenvolvimento Humano (UFRGS).
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