A interrupção no início do tratamento de Psicoterapia

Matéria escrita pelas Psicólogas da Horizontes Ana Cláudia Menini Bezerra e  Magda Martins Costa

Observamos que um número significativo de pacientes busca a psicoterapia como forma de aliviar o seu sofrimento.

O que querem é não sofrer mais independente do que lhe causa o sofrimento. Isto leva a que muitos busquem esse alívio imediato através do uso de medicamentos. No entanto, quando alguém procura uma psicoterapia, nem sempre essa pessoa tem a capacidade de voltar-se para suas questões internas. Vem com a ideia de que o psicoterapeuta

tem o saber para aliviar seu sofrimento. Alguns se sentem impedidos de fazer esse movimento de olhar para dentro de si, permanecendo com o olhar voltado para fora e esperando que o outro lhe dê as respostas. Destaca-se assim a dificuldade em dar continuidade ao processo de mudança interna mantendo-se no equilíbrio com que estava acostumado. A capacidade de tolerar a dor de se deparar com o próprio sofrimento precisa de tempo para ser melhor desenvolvida no processo psicoterápico, seja de crianças, adolescentes ou adultos.

O alívio dos sintomas, que por vezes acontece no início do tratamento, leva à interrupção precoce do mesmo. Como Freud destacou em suas obras, o alívio do sintoma nem sempre significa que ocorreu a mudança psíquica que levou à procura do tratamento.

Ainda de acordo com este autor psiquismo não tolera o desprazer procurando evitá-lo a todo custo mesmo que pra isso precise negar ou alterar sua percepção da realidade. Desta forma, a interrupção precoce do tratamento baseada no alívio incipiente dos sintomas pode ser entendida como uma fuga do desprazer que seria entrar em contato com os conflitos internos que causam sofrimento. Neste sentido, assinala Freud que “não é possível fugir de si próprio; a fuga não constitui auxílio contra perigos interno” (p. 270).


Referência:

Darriba, Vinicius Anciães, & Bosse, Carolina. (2013). O terapêutico e o analítico em Freud. Psicologia em Estudo, 18(2), 333-341. <https://dx.doi.org/10.1590/S1413-73722013000200014>.

Freud, S. (2006) Análise terminável e interminável. In S. Freud, Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. (J. Salomão, trad., Vol. 23, pp. 231 – 270) Rio de Janeiro: Imago. (Original publicado em 1937).

Nasio. J.D. (2003) Um psicanalista no divã. Rio de Janeiro: Ed. Jorge Zahar.