Estrutura Esquizofrênica de Jean Bergeret

Resenha Formação em Psicoterapia Psicanalítica
Primeiro semestre – 2018/1
Sabrina de Aguiar Fernandez

Bergeret fala das estruturas fundamentais do indivíduo, iniciando pelas mais rudimentares até as mais evoluídas em relação ao desenvolvimento típico, pontuando as diferenças entre elas. Vou enfocar a linhagem estrutural psicótica e dentro dela, a estrutura esquizofrênica. Na estrutura psicótica há uma falência da organização narcísica primária dos primeiros instantes de vida. A criança não consegue diferenciar-se da mãe-sujeito, como objeto próprio; o ego jamais está completo.

Na minha prática clínica atendo alguns pacientes com diagnóstico de esquizofrenia e estes apresentam diferenças entre eles. O primeiro, por exemplo, é dependente da mãe, sai de casa, vende balas na rua mas não sabe contar o dinheiro, leva lixo pra dentro de casa, fala palavrões para os vizinhos. O segundo traz a tia e a mãe nas consultas, cuida dos remédios delas, é muito organizado quanto a isto.

Segundo Bergeret, a estrutura esquizofrênica situa-se na posição mais regressiva, tanto do ponto de vista da evolução libidinal quanto do desenvolvimento do ego. Como mecanismos de defesa apresentam a condensação, deslocamento e simbolização, característicos do processo primário que leva a distorções da realidade e afrouxamento das associações. A angústia de fragmentação está ligada à impossibilidade sentida de constituir um verdadeiro ego. A relação objetal orienta-se para o autismo, em um esforço de recuperação narcísica primária. Freud definiu esquizofrenia como neurose narcísica pela regressão primordial desta estrutura. Encontra-se em uma organização pulsional autoerótica com investimento libidinal voltado para o Eu (pulsão pré-genital de dominância oral).

Voltando aos dois pacientes, em ambos os casos, são mães deprimidas; no primeiro caso, a mãe tem depressão leve, mas carrega muita culpa por tê-lo deixado sozinho quando criança, por muitas vezes, aos cuidados de uma tia que morava no mesmo pátio, pois trabalhava. No segundo, uma depressão diagnosticada como grave, em uso de várias medicações, em contrapartida uma família mais agregada. Bergeret coloca como características da mãe de pessoas com estrutura esquizofrênica como uma mãe “autoritária, superprotetora mas ao mesmo tempo ansiosa e culpabilizada. Mas talvez ainda mais marcada pela frieza afetiva pessoal, ao mesmo tempo que pela necessidade de total dependência de seu filho em relação a ela.” Mãe tóxica, frustrante. Com relação aos aspectos linguísticos, “o sujeito não pensa nem fala realmente com palavras, mas age com estas palavras como o faria com objetos”.

Permeando estas características da estrutura esquizofrênica, penso que por ter uma família mais estruturada o segundo paciente consegue ser mais funcional que o primeiro que não teve este recurso.


Referência

Bergeret, J. (1998). A personalidade normal e patológica. Porto Alegre: ArtMed.