Projeto Intervenções em Sala de Espera “Vínculos: Memórias e Familiar (idades)”

*Mariana Ziani de Tolla –
Graduanda de Psicologia Centro Universitário FADERGS

*Cristiane Figueiró Klovan –
Graduanda de Psicologia Centro Universitário Fadergs

O projeto aqui apresentado foi desenvolvido para a disciplina de Estágio Básico em Processos Psicossociais e Promoção da Saúde do Centro Universitário FADERGS e realizado na Clínica Horizontes. Após realizarmos observações na sala de espera da Clínica Horizontes desenvolvemos um projeto piloto com o objetivo de criar um espaço de escuta e compartilhamento grupal com os familiares dos pacientes que estão sendo atendidos durante o tempo que aguardam na sala de espera da clínica. A participação visa o fortalecimento de vínculos e o estabelecimento de uma relação compromissada entre equipe, usuário e família. Alinhados com o embasamento da intervenção em psicologia comunitária acreditamos que ao possibilitar espaços de escuta, reflexão e de práticas conjuntas aos familiares dos públicos atendidos contribuímos para a construção de uma identidade coletiva e individual. A equipe se torna mais sensível para a escuta e pontos de vulnerabilidade, o vínculo ao serviço entra como um recurso para vencer as resistências familiares, além de consolidar possibilidades de aceitação das individualidades de usuários e famílias (SCHRANK; OLSCHOWSKY, 2008).

Através de uma abordagem acolhedora e sensível, as coordenadoras da atividade convidam os familiares que aguardam na sala de espera para participarem de uma atividade no auditório da instituição, sempre ressaltando que a participação é voluntária. Segundo Carlos (2013) o grupo não é uma garantia de engajamento, mas é sempre uma possibilidade para que as pessoas elaborem, pensem e trabalhem as relações. Essa também é a nossa intenção, nosso objetivo. Para o mesmo autor o trabalho do profissional que trabalha com grupos é auxiliar que as pessoas envolvidas na experiência pensem o processo que estão vivenciando, não individualmente, mas coletivamente. Através da nossa experiência de estágio e também das observações realizadas os familiares que procuram ajuda e suporte dos serviços de saúde mental apresentam demandas das mais variadas ordens, dentre elas, situações de crise com conflitos familiares, dificuldades emocionais e materiais, culpa, isolamento social e tantas outras situações que constituem pontos de vulnerabilidade.

Ademais, destacamos, de acordo com Schrank e Olschowsky (2008) que a equipe de saúde mental deve estar atenta e comprometida com a dificuldade ou complexidade no cuidado da família e dos usuários dos serviços de saúde, buscando sempre construir dispositivos de apoio e mecanismos que facilitem a participação e a integração da família.

Essa foi nossa intencionalidade ao trabalhar com os grupos que aguardavam na sala de espera os seus familiares serem atendidos. Nossas intervenções, durante o segundo semestre de 2018, foram desenvolvidas através de rodas de conversas que tinham como tema “Vínculos: Memórias e Familiar(idades)”, tendo como atividade disparadora das reflexões o poema “Resíduo” de Carlos Drummond de Andrade que suscitava diferentes lembranças, memórias e reflexões nos participantes do grupo. Ao final da roda de conversas e de exporem suas lembranças, se assim desejassem, eram convidados a também deixarem registrado em forma de um trabalho (desenhos, recortes, colagens, frases, poemas…) um “resíduo” da sua participação na oficina, que posteriormente foram afixados na sala de espera da instituição. Uma forma inovadora e acolhedora de trabalhar a integração e a humanização dos espaços e dos tempos de espera na área da saúde.

Referências

CARLOS, Sérgio Antônio. Psicologia social e comunidade. In: Jaques et al. Psicologia social contemporânea. Porto Alegre: Vozes, 2013.

SCHRANK, Guisela; OLSCHOWSKY, Agnes. O centro de Atenção Psicossocial e as estratégias para inserção da família. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v42n1/17.pdf Acesso em 31 ago. 2018