Quem escolhe a escola?

crianca-mae-escola-1359646969962_300x420A família vive hoje uma crise de identidade. Embora seja bem grande o número de pessoas que vive criticando e culpando os pais (cada vez com mais severidade), como se fossem eles sempre os único culpados por quaisquer atos inadequados dos filhos, preciso dizer, com toda a convicção e baseada em minha experiência como educadora há décadas, que nunca houve nas gerações anteriores, pais tão preocupados com a democratização da relação. 

A hierarquia rígia que existia na família foi sendo gradualmente substituída pelo diálogo, pelo respeito à individualidade e às características pessoais de cada um dos filhos, pelo direito à privacidade, pelo direito de alcançar uma relação baseada no respeito mútuo e não no medo. Emfim, de um maneira geral vimos assistindo ano após ano, a luta dos pais não repetirem o modelo inflexível que vigorou até as décadas de 60/70.  Até então prevaleciam duas concepções: ou a criança era vista como adulto em miniatura (o que gerava expectativas irreais sobre suas possibilidades: não se sujar, sentar direitinho, não deixar cair das mãos, etc.) era ou, ao contrário, como um ser incapaz de participar de quaisquer decisões sobre a sua vida (era comum ouvir-se: criança não tem querer!). Qualquer que fosse a maneira de encará-la, à criança  restava apenas um caminho: obedecer sem contestar. Depois de uma verdadeira revolução chegou-se ao oposto: tem criança decidindo até o modelo do carro que o papai vai comprar ou se a família vai encomendar um irmãozinho a mais! Não é força de expressão. É fato. Devido a tantas mudanças, pais e mães, confundem ou ignoram o seu verdadeiro papel. Em nome da igualdade, tem gente desesperada  com a falta de limite dos filhos. A questão que se coloca, portanto, é: até onde vai o direito de as crianças decidirem  sobre a sua própria vida e sobre a vida da família?

Ouvir a atender as necessidades dos filhos é fundamental; é, aliás, uma obrigação dos pais esclarecidos. Saber quais são seus desejos, preferências, pensamentos, expectativas e necessidades, é sem dúvida, importante.  Mas é necessário em meio a tudo isso, que os pais estejam muito conscientes do papel que lhes cabe e de quais são as suas responsabilidades com os filhos.

Por exemplo, quem deve decidir que tipo de escola o filho deve frequentar, qual o modelo de educação a ser seguido, com que idade começar a frequentar o colégio, se deve ir ou não À escola porque está chovendo muito? Decisões desse teor devem tomar por matriz a análise do desenvolvimento da crianças e não apenas o que ela gostaria de fazer, mas o que é necessário para o seu desenvolvimento harmônico e integral. Enquanto estão nas primeiras séries (educação infantil e ensino fundamental), sem dúvida, a escolha é um dever e um direito dos pais e por eles deve ser feita. É evidente que a criança não tem ainda condições – intelectual ou emocional – nem discernimento para decidir qual modelo de escola irá frequentar.

Essa opção – em que escola colocar os filhos – deve ser feita com base em vários elementos.

O primeiro deles e o mais importante (antes de considerar distância da residência, limpeza, infra-estrutura, etc.) deve ser a definição de que tipo de educação deseja dar aos filhos. A escolha deve ser feita, antes de tudo, em conformidade com o trabalho educacional desenvolvido na família.

O segundo aspecto essencial a ser considerado é a personalidade da criança. Como é o seu filho?

– É voraz e interessado em aprender ou só quer saber de futebol e videogame?

– Tem alta capacidade de concentração ou se distrai com facilidade?

– É motivado ou é preciso estar sempre criando situações para que se interesse por alguma coisa?

– É tímido e introvertido ou é despachado e intrépido?

Etc.

Cada uma dessas perguntas e muitas outras, evidentemente, devem ser consideradas. Existem crianças que precisam de mais incentivo do que outras, naturalmente motivadas. De acordo com esse conhecimento, os pais poderão estabelecer com mais segurança qual a escola ideal.

A partir dos 12 anos mais ou menos, porém,  se por alguma razão precisamos transferir a criança para outro estabelecimento de ensino, ela já terá condições de trocar idéias de forma mais objetiva.  Aí sim, será positivo ouvi-la para avaliar o que deseja. Mas é bom lembrar que o imediatismo do adolescente pode conduzi-lo a aspirações nem sempre as mais indicadas quando se tratar de estudar (por exemplo, eescolher uma instituição em que sabe que “todos passam” sem precisar nem frequentar as aulas).  De todo modo, ouvir os filhos em qualquer idade, é sempre bom e necessário; considerar de fato o que disseram também; a decisão final, no entanto, deve sr dos pais, porque, de modo geral, quanto menores, menos condições têm de analisar adequadamente a questão. Nada no entanto, que uma conversa bem orientada, com argumentos concretos e muita segurança da parte dos pais, não resolva.

A família precisa reassumir sem medo o papel de principal agência educadora das novas gerações. A escolha da escola é uma decisão dos pais, ainda que ouvidos os filhos e estudadas duas características.

Fonte: Trecho extraído do livro “Os direitos dos pais”, de Tãnia Zagury