Edda Maria Mendonça Petersen – Psicóloga (CRP 07/7850)
Coordenadora do grupo de estudos em atendimento online
Se você tem interesse em atender de formas remota, aqui estão algumas recomendações para a sua prática.
1. Inscreva se na plataforma E-Psi do Conselho Federal de Psicologia.
2. Avalie a sua disponibilidade para esta forma de encontro. Nem todos se sentem à vontade em utilizar tecnologias da informação e comunicação (TIC)
3. Lembre-se que o seu próprio tratamento – análise ou psicoterapia – é fundamental para dar conta dos próprios conteúdos que os pacientes mobilizam.
4. Estude e supervisione! Ainda não temos uma vasta produção científica neste campo, mas muitas instituições e profissionais oferecem um espaço de questionamento e investigação sobre o assunto.
5. Conheça as diferentes tecnologias que podem ser usadas para atendimentos remotos. Veja com qual você se identifica mais e tem mais facilidade de manusear. Informe-se sobre as melhores garantias de sigilo e confidencialidade.
6. Escolha um local adequado para realizar o atendimento, com privacidade e segurança, com uma boa e estável conexão de internet e iluminação adequada. A distância entre você e a tela deve ser suficiente para que não fique nem muito perto, pois seu paciente verá seu rosto muito grande e não tão longe que sua imagem e volume de sua fala não fiquem comprometidos.
7. Trabalhe a aliança terapêutica com o seu paciente e com a família deste, principalmente se for um atendimento de crianças e adolescentes.
8. Faça um contrato ou recontrato claro que, além das questões que precisam estar acertadas, contemple situações como compartilhamento da responsabilidade com o setting, o que acontece se a conexão cair, e outras situações que podem ocorrer.
9. Avalie a real possibilidade deste atendimento ocorrer de forma remota. Nem todos os pacientes podem ou devem ser atendidos desta maneira. Há casos onde há contra indicação desta forma de atendimento.
10.Ter uma boa bagagem de estudo de autores clássicos que orientam sobre a técnica psicoterápica e saber que haverá situações onde as adaptações deverão ser feitas.
11.Combine como será a dinâmica do atendimento, por exemplo, que o paciente chame seu terapeuta no horário da sessão e como proceder caso o terapeuta se atrase. Combine como serão as faltas, os atrasos, etc.
12.Podem acontecer ajustes necessários. Avalie de forma responsável cada um deles levando em conta o conteúdo inconsciente implicado nisto.
13.Trabalhe com a possibilidade de o paciente não conseguir evitar que o conteúdo da sessão vaze. O cuidado e a responsabilidade pela manutenção do setting passam a ser compartilhados nas situações remotas. Nesta modalidade, não temos como garantir 100% de possibilidade se sigilo, devido aos fatores externos e risco pela ferramenta escolhida.
14.Deixe seu aparelho celular estável e combine que o paciente também deixe o dele. Isto facilita o conforto visual, se você utilizar essa forma de aparelho para as sessões.
15.Nem todos os pacientes farão as sessões por vídeo. alguns usarão voz e isto pode facilitar a proximidade com o que se vivencia no atendimento presencial.
16.Lembre-se de fazer um intervalo entre as seções. Isto evita que um atendimento interfira no outro e lhe possibilita sair da posição em que você se encontra, caminhar, mudar a vista do cenário.
17.Contar com uma rede de apoio para situações de encaminhamentos emergenciais é muito importante.
18.Ter o contato de familiares pode ser fundamental para situações de risco durante o processo de tratamento.
19.As resistências, os silêncios, também estarão presentes.
20. Acredite que o processo transferencial pode ocorrer da mesma forma nos atendimentos online.
21.Confie na sua contratransferência. Ela é uma ferramenta muito importante também no atendimento online.
Nos atendimentos com crianças, além destes fatores, é muito importante lembrar que:
– É muito comum que crianças que se encontram antes da latência não consigam fazer as seções online sem a presença de um adulto responsável. Já as que estão na latência apresentam maior possibilidade de atendimento similar ao presencial e de se responsabilizarem também pela manutenção do setting.
– Com situações onde seja muito difícil para os pais não participarem da sessão dos filhos, pode-se combinar um tempo para que eles tenham o contato com o terapeuta, pois no atendimento presencial isto geralmente ocorre na chegada e na saída da criança do consultório.
– Lembre-se que o terapeuta está dentro da casa de seu paciente e isto nem sempre é confortável para a família.
– Cuide da sua curiosidade! Pode ser muito tentador querer conhecer a casa, a família, os bichos de estimação. Entenda de quem é a demanda para que essas coisas aconteçam.
– Fique atento a segurança das crianças durante o atendimento, pois podem se desorganizar. Tenha o contato dos responsáveis caso seja necessária alguma intervenção além da sua fala.
– Avalie a capacidade lúdica de seu paciente. Ela é muito importante para que a criatividade surja no atendimento. Tenha você também capacidade criativa para brincar online.
– Saiba que as crianças são nativos digitais. Conheça a linguagem delas.
– Tenha autorização por escrito dos pais ou responsáveis para realizar o atendimento de forma online.
Lembre-se que ainda estamos muito no início da produção de conteúdo sobre o atendimento online e que muitos questionamentos ainda serão feitos.