A avaliação em psicoterapia

Livro: “ Psicoterapia de Orientação Analítica – Cláudio Eizirik”
Avaliação – cáp 14
Carmem Keidann
Jussara Dal Zot

Produção por Gabriel Vanin, Juciane Feijó, Lucas Perusso, Renata Gonzalez, Renata Rehm

A avaliação de um paciente consiste em uma entrevista inicial, que pode levar mais de uma sessão, para entender o funcionamento de cada paciente e assim, poder indicar o tratamento que mais beneficiará o mesmo, seja psicoterapia de orientação analítica (POA) ou a análise propriamente dita. Esse momento inicial se diferencia do processo de psicoterapia, pois possui um formato próprio, sendo necessário a coleta de dados, e na maioria das vezes o psicoterapeuta está mais ativo para compreender e indicar um tratamento adequado. A grosso modo podemos diferenciar os dois processos através de alguns pontos: A POA consiste em questões mais focais e breves, não contando com aspectos infantis (regressivos) do paciente. A análise se faz de forma mais profunda e costumeiramente, mais prolongada, atrelando-se a questões regressas da vida do paciente. Outro ponto diferenciador é o uso do divã, onde no processo analítico é feito o uso deste e na POA, não.

Durante a avaliação, entender a motivação do paciente é um fator importante para a escolha do tratamento. Sabe-se que a motivação pode ser conceituada por, “conjunto de processos que dão ao comportamento uma identidade, uma direção determinada e uma forma de desenvolvimento próprias da atividade individual” (Houaiss, 2001). Saber o quão motivado e o porquê se dá essa motivação, auxilia ao terapeuta entender se de fato há possibilidades de ingresso deste paciente em psicoterapia. Quando falta motivação por parte do paciente, há grande possibilidade de abandono do processo terapêutico. Por esta possibilidade, é também, papel do terapeuta, não propor algo que não vá ser investido (psíquica e financeiramente) pelo paciente, fazendo que os dois percam tempo e dinheiro.

A aliança terapêutica é um conceito fundamental quando se estabelece um processo terapêutico. Ela ocorre após o estabelecimento do contrato com o paciente. No contrato, se esclarece as regras daquela relação, o horário e o espaço onde ocorrerão os encontros. O contrato tem sua importância ímpar pois estabelece limites e constrói o vínculo, construindo um setting seguro. A aliança terapêutica é um facilitador, reduz as defesas resistentes e coloca o analisando em trabalho com a seu psicoterapeuta. Através dessa relação que se constrói o tratamento que possibilita transformações.

O encontro analítico permite que haja uma inter-relação entre entrevistador e avaliado na qual essa relação é movida pela dinâmica da transferência e contratransferência, servindo como pilares para o processo clínico. Segundo Freud (1905) algumas das nossas ações e reações estão instruídas por experiências passadas a se repetirem no presente, tornando a percepção da realidade atual um composto de passado e presente, fazendo com que o avaliado de maneira inconscientemente representa no setting seus conflitos do passado.

Dito isso, essas transferências ocorrem anterior ao primeiro encontro, é vista já na própria marcação da primeira consulta, levando o entrevistador a adquirir informações que vão ser fundamentais para um entendimento amplo do funcionamento psíquico do avaliado. As condições que são relativas a figura do terapeuta, como a idade, sexo, aspecto físico, representação social, corresponde ao início da transferência. Sendo assim, torna-se relevante uma escuta atenta ao avaliado, pois o mesmo pode apresentar dificuldades em se comunicar espontaneamente, dificultando a obtenção de elementos essenciais na história, o que nos indica um sinal de resistência atrelado a essa transferência.

O entrevistador, muitas vezes, reage de maneira inconsciente a esses fenômenos, e é a partir dessa reação que se constitui a contratransferência. Trata-se do mesmo tentar identificar o que é do entrevistador e o que é do avaliado. Portanto, a situação analítica deve ser administrada para que o processo não fracasse.

Para Heimann (1950/1995) a natureza relacional da sessão analítica implica o aparecimento de sentimentos nas duas pessoas que compõem a sessão, e não há nada que o analista possa fazer para evitar que lhe surjam esses sentimentos, visto que o terapeuta também faz parte do processo analítico. Contudo, caberá ao analista reconhecer seus sentimentos contratransferenciais que serão evocados em qualquer estágio de um tratamento analítico.

A avaliação é parte essencial do processo terapêutico, sendo esse contato um momento onde as primeiras impressões são geradas tanto no paciente quanto no terapeuta. Este momento inicial é importante para que se torne possível a construção do vínculo que permitirá dar seguimento a psicoterapia. Por vezes, será necessário trabalhar alguns aspectos para que a psicoterapia realmente se estabeleça, como a motivação do paciente ou outros aspectos específicos de cada caso, colocando em papel central a relação entre paciente e terapeuta e os fenômenos transferência e contratransferência. Sendo assim, é preciso reconhecer a importância de estudos direcionamos para este tema e a responsabilidade ética de realizar avaliações e indicações precisas.

Referências: TIMO, Alberto L Rodrigues; RIBEIRO, Paulo de Carvalho. Contratransferencia: surgimento e evolução do conceito em tearicos das relaçoes objetais. Gerais, Rev. Interinst. Psicol., Belo Horizonte , v. 10, n. 2, p. 275-293, dez. 2017 . Disponível em . acessos em 24 ago. 2020.