Por Luciano Martini – Estagiário de Psicologia na Clínica Horizontes
A Adolescência é um período turbulento dentro da história de cada indivíduo. Embora algumas características deste período do desenvolvimento humano sejam comuns e mantenham-se inalteradas, o contexto sociocultural apresenta modificações e predicados próprios de nossa época. Segundo Eizirik (2015), a adolescência compreende um período humano crucial e complexo, com características e significados únicos. Sua definição e compreensão vêm evoluindo e se modificando através da história da psicanálise, constituindo, ao longo dos anos, um vasto corpo teórico e técnico.
Para Aberastury (1981) este é um período confuso, ambivalente, doloroso, caracterizado por fricções com o meio familiar e social. Para a autora as mudanças psicológicas que se produzem neste período, e que são a correlação de mudanças corporais, levam a uma nova relação com os pais e com o mundo, isso é possível quando se elabora lenta e dolorosamente, o luto pelo corpo de criança, pela identidade infantil e pela relação com os pais da infância.
Ainda segundo esta autora, todas estas mudanças, nas quais sua identidade de criança foi sendo perdida, resultam necessariamente em uma busca de uma nova identidade, que vai se constituindo num plano inconsciente e consciente. O adolescente não quer ser como determinados adultos, mas em troca, escolhe outros como referência.
Esta busca por identidade força o adolescente a diferenciar-se de sua família, e conforme Zimerman (2004), as forças em conflito (amorosas, agressivas, eróticas, narcisistas, de dependência e de independência), podem ser tão intensas que, com frequência, o adolescente se volta violentamente contra seus pais, ou também contra a sociedade.
Macedo (2012) ainda acrescenta que esta fase do ciclo vital carrega em si questões psíquicas, biológicas e culturais, pois demarca a necessidade do indivíduo em se desvincular dos pais e entrar, então, na comunidade social. Por esta razão o adolescente sente necessidade de pertencer a grupos, busca encontrar e formar a sua “turma”.
Segundo Zimerman (2004), a “turma” propicia a formação de uma nova identidade, intermediária entre a família e a sociedade, com a elevação e o exercício de novos papéis. Da mesma forma, a turma cria um novo modelo de superego ou de ideais do ego, abandonando por ora os valores e ideais propostos pelos pais, quer seja por não conseguirem ou não quererem desempenharem tais ideais.
O adolescente convive com uma sensação de confusão em relação ao seu sentimento de identidade, tanto no nível individual, social e sexual. Assim sendo, Macedo (2012) ressalta que as modificações físicas trazidas pela puberdade impulsionam as transformações psíquicas, desta forma, em meio a um turbilhão de desejos, sentimentos e medos, os jovens fazem uma profunda revisão de seu mundo interno e experiências infantis buscando dar conta das transformações físicas da puberdade e da demanda de trabalho psíquico que invade seu território.
Quando falamos em crise adolescente não estamos necessariamente referindo-nos a algo ruim, nocivo, mas sim a um conjunto de vivências impregnadas de incertezas e dificuldades, que fazem desta fase da vida um momento importante e decisivo. As crises fazem parte da vida e são elas que podem nos fazer crescer. A crise da adolescência é mais uma das crises vitais, que promove o autoconhecimento e o crescimento, por gerar movimentos de transformação e possibilitar o acesso a diferentes condições psíquicas. (MACEDO, 2012).
Em razão destas considerações referentes as características peculiares deste período do desenvolvimento humano, descrito como um importante ciclo vital, o adolescente pode necessitar de um espaço, como a psicoterapia, de elaboração das questões relativas à adolescência.
Com isso, o trabalho psicoterápico com adolescentes tem por objetivo possibilitar, por meio da revivência de situações passadas, condições para um trabalho de reestruturação psíquica, ou seja, a reconquista da estabilidade do ego e a reorganização das pulsões, acomodando tanto as modificações físicas quanto as psíquicas numa nova configuração identitária (MACEDO, 2012).
Há de se ressaltar a importância da construção de um vínculo terapêutico para o sucesso no tratamento de pacientes nesta fase do desenvolvimento humano. Para Eizirik (2015) quanto melhor a qualidade dessa aliança, melhores serão os resultados. Podendo a aliança ser entendida com uma “união de forças” do paciente, do terapeuta e do enquadre, ou seja, o paciente colabora estabelecendo um vínculo relativamente racional, a partir de seus componentes instintivos neutralizados, vínculos do passado que agora surgem na relação com o terapeuta. Este contribui por seu constante empenho em tentar entender e superar a resistência, com sua empatia e atitude de aceitar o paciente sem julgá-lo ou dominá-lo, com isso, pode-se afirmar que a Aliança Terapêutica é remetida às primeiras relações de objeto da criança com seus pais, em especial com a mãe. Castro (2009) afirma que a aliança tende a evoluir com o passar do tempo, baseada na crescente ligação positiva com o terapeuta e na percepção (consciente) da necessidade de ajuda.
Sobre as técnicas a serem utilizadas em uma psicoterapia com abordagem psicodinâmica com um adolescente, Zimerman (2004) confirma que são as mesmas regras técnicas utilizadas na terapia com adultos, como livre associação de ideias, abstinência, atenção flutuante, neutralidade amor às verdades se mantem, porém cabe sinalizar que os adolescentes são sobremaneira suscetíveis às decepções e a colocação de freios exagerados a suas aspirações. Por isso, deverá haver o cuidado para não esterilizar a espontaneidade e a criatividade do adolescente, e perceber a distinção entre uma agressividade “sadia” e uma agressividade “destrutiva”.
Caberá ao terapeuta, por meio de sua capacidade negativa, continência e capacidade de rêverie, transformar a experiencia transmitida pela ação comunicativa em simbolização (BION, 1962). Em outras palavras, o terapeuta terá que desenvolver sua tolerância com incertezas, momentos de incompreensão, ambiguidades e paradoxos (MELTZER, 1978).
Por tudo isto, Zimerman (2004) afirma que é imprescindível que o analista de adolescente possua uma boa capacidade de continente, para que possa receber e conter as variadas cargas de projeções do paciente, ora de seu lado amoroso e construtivo ora do lado com um ódio destrutivo; de euforia ou depressão; de certezas e duvidas; gratidão e desespero; de erotismo ou repulsa; emotividade ou excessiva intelectualização; submissão ou rebeldia.
Quanto aos objetivos da psicoterapia com adolescentes, Kupermann (2007), a partir das contribuições de Winnicott, defende que o final do atendimento pode acontecer quando o adolescente adquire a “capacidade de estar só”. Deve, assim, ter autonomia em relação aos pais, percorrendo o caminho rumo à independência, com possibilidade de estar sozinho, mas sem uma vivência de abandono.