Patologização da infância e adolescência

Beatriz Janin é nossa convidada especial na Jornada “Sofrimento Psíquico na Infância e Adolescência. Janin é Psicóloga e Psicanalista Argentina. Presidente do Fórum Infâncias, Associação Civil contra a medicalização e patologização da infância. Tema que perpassa por seus estudos e livros.

Uma das críticas realizada por Janin é a realização de diagnósticos indiscriminados e precoces na infância. Ressalta que o sofrimento costuma ser desmentido na sociedade atual, na qual o que parece interessar é o rendimento. Passamos a ser robôs a serviço dos interesses de uma minoria, nos apresentamos como peças de uma maquinaria que nos desconhece como sujeitos desejantes e pensantes. Esquecemos que as crianças e adolescentes são sujeitos em vias de transformações.

Não levando-se em conta que a infância e a adolescência são épocas de desenvolvimento, de transformação, em que os outros ocupam um lugar fundamental. Desta forma, sempre é possível apostar e investir na mudança.

“Infâncias e adolescências diagnosticadas na base de testes, protocolos e questionários padronizados, nos quais não se leva em conta suas particularidades. Infâncias e adolescências que caem alterados e que não são reconhecidos em sua singularidade nem em suas múltiplas possibilidades”. Muitas vezes são patologizados sem serem escutados. Precisamos mudar nosso olhar.

Quais são os métodos de avaliação que estão sendo utilizados? Muitas vezes, ao invés de se observar o contexto, o tipo de vínculo predominante e o modo que a criança está se desenvolvendo, se dá rapidamente um título para o que está passando, considerando apenas o manifesto. O que pode nos levar a diagnósticos de acordo com a especialidade do profissional consultado.

Janin ressalta que nossa tarefa como terapeutas é defender a subjetividade contra os ataques dessubjetivantes e maquinizantes do ser humano. Com as crianças e adolescentes levanta uma questão ética: a de sustentar um olhar que os localize como sujeitos desejantes, com história e com um futuro aberto.Temos que pensar que o olhar que a criança recebe é estruturante de seu ser. Se sente que é olhado como um “transtorno”, cairá efetivamente “transtornado”.

“Frente a isto, é muito importante implementar intervenções que possibilitem a constituição da subjetividade e devolver um olhar que reinstale o tempo da infância como um tempo de transformações”.