Nossa pele é uma linha direta de comunicação entre o mundo exterior e o nosso cérebro. Através da pele registramos as primeiras impressões, aquelas que permanecerão em nós esquecidas, mas jamais serão apagadas. A qualidade dessas primeiras experiências sensoriais é, portanto, crucial para definir o sujeito que seremos na vida.
Quando se fala de um Eu-pele como fundador do psiquismo, não é somente uma forma poética de olhar para essa etapa do desenvolvimento humano. É uma verdade neurobiológica, cujo potencial subjetivante poderá se desenvolver com muita ou pouca qualidade dependendo do tipo de alimento que o corpo que acabou de nascer recebe. Um trato delicado, amoroso e presente de verdade com o bebê é tão fundamental quanto as doses de leite tecnicamente recomendadas. Porque é no acúmulo das sensações registradas por nosso Eu-pele que vamos conseguir construir – ou não – uma noção continente, de dentro e de fora, essencial para permitir nossa individuação e evitar que nos tornemos adultos sem bordas nem limites.
Núcleo do Bebê: a constituição do psiquismo, com o “O Eu-pele”, de Didier Anzieu