O uso de máscaras: um gesto de (auto) cuidado e empatia para com o próximo

Lívia Fração Sanchez
Doutora em Psicologia Clínica (UNISINOS).
Psicoterapeuta Psicanalítica (IEPP) e Analista em
Formação (SPPA). livia_sanchez@hotmail.com

O uso de máscaras: um gesto de (auto) cuidado e empatia para com o próximo. Evidências científicas sobre o novo coronavírus indicam que a adoção de medidas de proteção como o distanciamento social e o uso de
máscaras de proteção minimizam a chance de contaminação e transmissão do vírus. Baseado nisso, decretos que tornam obrigatório o emprego de
máscaras em estabelecimentos fechados foram publicados em todo o país. Apesar da obrigatoriedade e/ou recomendação de tais equipamentos como método de prevenção ao Covid-19, algumas pessoas, ainda relutam em usá-la e só o fazem em locais no qual o seu uso é obrigatório por lei. O que explica tal comportamento? E para aqueles lugares em que a única
lei que vigora é a lei do bom senso? Para estes, o uso da máscara não é lei, contudo sua utilização segue sendo recomendada e vital para que a nossa saúde e a do próximo sejam preservadas.
Freud, em O Mal Estar na Civilização, afirma que algum limite de nossos desejos é necessário para que ocorra o processo civilizatório. Viver em sociedade exige renuncias. Em tempos de pandemia mais do que nunca tais renuncias se fazem necessárias. Precisamos abrir mão do nosso narcisismo e da ilusão de onipotência de que somos seres acima do bem e do mal.
Acredito que a resistência de algumas pessoas ao uso de máscaras apresente fortes componentes psicológicos. Um deles, diz respeito a possíveis falhas na capacidade empática, que se refere à habilidade de
inferir pensamentos e emoções dos outros. Em época de pandemia, colocar-se no lugar do outro, especialmente no dos idosos e de pessoas do grupo de
risco se torna fundamental no combate ao vírus. Não utilizar máscaras, frente à situação atual, mais do que um descuido consigo é um não cuidado para com o próximo, o que deixa de ser um problema individual e
passa a ser um problema coletivo. Nesse sentido, falar de empatia torna-se fundamental nos tempos atuais.
Outra possível razão para tal comportamento é o mecanismo de negação, ou seja, agir como se a doença não existisse para não entrar em contato com a própria vulnerabilidade, desamparo e finitude. Temos que continuar aceitando esta nova realidade até que uma vacina seja disponibilizada, pois assim estaremos sendo empáticos e cuidadosos conosco e com o
próximo.