A constituição do psiquismo – experiência de satisfação

Artigo escrito pela Psicóloga Lisiane Storniolo

Uma das questões básicas, desenvolvida por Freud (1895), para a constituição do aparelho psíquico é a “experiência de satisfação”. O ser humano é o único animal que precisa do outro para se desenvolver, ao que Freud denominou de “ação específica”. O bebê é acometido por tensões advindas do corpo endógeno, e para obter alivio desta tensão, deste desprazer, precisa que uma outra pessoa execute uma “ação especifica”. O encontro do bebê com quem lhe permite obter a descarga das tensões é o que Freud denomina como “experiência de satisfação”.

Para Freud, este encontro é um dos mais importantes. A descarga desta energia investe um conjunto de neurônios correspondendo à percepção do objeto que proporcionou a satisfação, estabelecendo uma facilitação. Adquirindo, também, a importante função secundária da comunicação.

Quando este estado de necessidade do bebê se repetir, irrompe um impulso psíquico que vai tentar reinvestir a imagem mnênica da primeira experiência de satisfação, como forma de tentar reproduzir esta satisfação original sem a presença do outro. E assim, começa a ser definido a noção de desejo. A reativação da imagem produz uma percepção alucinatória do outro. Esta alucinação primitiva será o que constitui o inicio da simbolização, origem do processo de pensamento.

Portanto, quem cumpre esta ação específica será o responsável por inscrever representações inicialmente via corpo do bebê, que irão conter seus próprios desejos inconscientes em relação a esta criança.

Sendo a origem da representação alucinatória constituída pelo representante pulsional de quem exerce a ação específica que irá originar outras representações, o bebê precisará absorver e significar estes estímulos sensoriais vindos do exterior. Este processo de transformação realizado pelo bebê é a base fundante para a singularidade e diversidade de respostas a um mesmo estímulo vindo do exterior.

A experiência de satisfação é responsável por inscrever marcas mnêmicas e instaurar o desejo. O desejo teria como finalidade reinvestir a imagem mnêmica produzida pela primeira experiência de satisfação. E é a partir da constituição deste desejo que o sujeito terá a oportunidade de constituir-se como um sujeito pensante.

Referência:

FREUD, S. (1985). Projeto para uma psicologia científica. In: Obras completas de Sigmund Freud: edição Standard brasileira. Rio de Janeiro: imago, 1996.

FREUD, S. (1900). Interpretação dos sonhos, volume 2. Porto alegre: L&PM, 2014.