Debatendo sobre o Autismo

autismo-1024Podem-se descrever inúmeros exemplos de como as crianças autistas se mostram, pois elas podem apresentar diferentes comportamentos. Elas podem ter rituais, apresentar dificuldades na fala e serem incapazes de estabelecer contato com as pessoas a sua volta, vivendo em um mundo privado e particular. Podem passar horas manuseando um brinquedo, sem conseguirem realmente brincar. Não se discriminam do outro e seu pensamento simbólico encontra-se fortemente inibido, até mesmo não desenvolvido. Qualquer fato ou experiência que invada este ambiente pode ser vivido como algo aniquilador que gera muito medo. Muitas vezes, pelas particularidades de cada indivíduo, o diagnóstico torna-se difícil ou até mesmo tardio.

É bastante comum que crianças autistas tenham uma percepção neuro-sensorial, como barulhos, cheiros, sensibilidade ao toque, por exemplo, diferente de crianças que não tem autismo, o que as torna mais sensíveis ao que vem do ambiente externo. Causas múltiplas contribuem para o autismo (biológicas, neurológicas, cognitivas, emocionais ou psicogênicas), porém até hoje não se tem uma explicação definitiva para a síndrome. Sabe-se que o desenvolvimento infantil encontra-se comprometido e por muito tempo se responsabilizou os pais como fatores determinantes para o desenvolvimento do autismo, o que atualmente é entendido de forma diferente.

No autismo, o termo “buraco negro” frequentemente está presente. Os comportamentos autistas seriam a maneira de a criança lidar com a evitação da consciência da separação da mãe, ou seja, lidar com o sentimento de buraco que surge quando se vivencia esta separação. É como se o trauma do nascimento rompesse definitivamente a ligação do bebê com a mãe a ponto de não ser possível uma ligação emocional e criativa, onde a função materna de continência falhasse frente à experiência de desintegração que este bebê vivencia.

Crianças autistas têm dificuldade ou até mesmo incapacidade de alimentar afetivamente o vínculo, o que gera uma dificuldade também no ambiente, e em primeiro lugar nos pais, de seguirem investindo na relação. Por esta razão o diagnóstico e a intervenção precoces se tornam tão necessários e determinantes para a evolução de cada situação.

Artigo de Edda Maria Mendonça Petersen –  Psicóloga Clínica, Coordenadora do Grupo de Estudos sobre o Autismo da Clínica Horizontes e Coordenadora do Instituto de Ensino Horizontes.

Bibliografia:

Lasnik, M.C. Rumo a Fala – Três crianças autistas em psicanálise. Companhia de Freud

Tustin, F. Autismo e psicose infantil. RJ. Imago, 1975

Tustin, F. Barreiras autistas em pacientes neuróticos, Porto Alegre, Artmed, 1990