Matéria escrita pelo Pediatra Dr. Renato Coelho – Presidente do Comitê de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul e integrante da equipe da Clínica Horizontes(baseada no artigo publicado pela Medscape).
Este tema tem preocupado a todos que atendem crianças tanto na clínica quanto nas escolas em geral. Assim como os pais e adultos que conviveram ou viveram numa condição, onde isto não era tão intenso e com tanta diversidade de telas e facilidade de acesso.
E os jovens pais, que já cresceram num ambiente eletrônico em plena fase de expansão, não parecem estar refletindo sobre o impacto deste tempo aumentado de exposição às telas pode causar. Parece que quanto mais precoce a criança saber manusear e navegar neste ambiente eletrônico e de mídias sociais, saber usar estes recursos precocemente a tornaria mais esperta.
Mas, e os efeitos negativos quais seriam? O primeiro efeito é tirar o tempo das outras coisas de um dia, que tem o tempo limitado das 24 h. Tempo este dedicado para as necessidades fisiológicas como dormir, comer e se relacionar com ou outras pessoas de forma interativa ao vivo, real e concreta. Assim como as outras atividades educativas, recreativas e esportivas.
Sem parecer retrógrado e negar os avanços tecnológicos e necessários da vida moderna o ato de pensar e refletir sobre ela é necessário.
No contexto clínico os atrasos do desenvolvimento chegam a 1 criança a cada 4 até o início da vida escolar regular, trazendo dificuldades de aprendizagem e escolares em geral.
Aproximadamente 98% das crianças norte-americanas de até 8 anos vivem num casa conectada com internet e passam 2 horas ou mais por dia nas telas.
Usar as evidências científicas auxilia nesta reflexão, uma vez que os fatos constatados sustentam de forma mais sólida um parecer de orientação.
Recente estudo, publicado na respeitada revista JAMA Pediatrics em Janeiro/2019, realizado por Sheri Madigan, Phd pesquisador da Universidade de Calgary, Canada.
Foi um estudo de coorte longitudinal que recrutou mulheres grávidas e seus bebês após nascerem, entre 2008 e 2010, e os acompanhou por 5 anos. Foram 2441 parelhas de mães-bebês. Os bebês foram avaliados aos 24, 36 e 60 meses de idade, usando-se um instrumento (Ages and Stages Questionary-3) para avaliar o desenvolvimento deles nestas etapas de idade.
As crianças que passam mais tempo nas mídias sociais e nas telas aos 2 e 3 anos de idade tem piores resultados nos testes de triagem de desenvolvimento aos 3-6 anos de idade.
Os resultados confirmam a ligação entre maior tempo de tela e um pobre resultado no desenvolvimento. E outra informação que constataram foi que a queda nos resultados foi precedida pelo excessivo tempo de tela, excluindo uma hipótese de que crianças com atraso teriam mais horas de tela como forma de controlar o comportamento delas.
Há que se tomar medidas educativas do uso consciente destes recursos tecnológicos sob pena de comprometer uma geração de crianças com falhas e atrasos que se somam com o tempo, causando um custo adicional nos recursos de auxílio terapêutico familiar e público. Chegando na vida escolar da graduação com falhas pedagógicas graves e com dificuldades de interação social.