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13/08/2020 – Mulheres e desejo, hoje, com Maria Alejandra Rey, psicanalista, representante da IPA na América Latina, e Richelle Albrecht, psiquiatra da Clínica Horizontes

Por Marilei Zanini
Estudante de Psicologia pela PUCRS, estagiária em ênfase específico em Clínica Horizontes.

Já em 1908, o psiquiatra e psicanalista Sándor Ferenczi (1873 – 1933) dizia que as mulheres deveriam reivindicar sua autonomia sexual e deixar de se submeter aos homens. Mas quem consegue vencer sozinha a força do patriarcado? Quem consegue viver seu próprio desejo quando o único caminho subjetivo permitido pela cultura é o da maternidade? Até hoje, o desejo de filho é a única lógica permitida para as mulheres – ou seja, não há espaço para o desejo livre de feminilidade a não ser pela via da transgressão cultural. No entanto, muita coisa já mudou e, diante do protagonismo das mulheres em algumas áreas, abriu-se espaço também para um novo lugar para os homens, embora eles ainda não tenham as ferramentas necessárias para responder a essas novas demandas. Então, eles tentam restaurar sua potência, sua virilidade, agredindo as mulheres.

Judith Butler, filósofa especialista na Teoria Queer, afirma que ser de certo gênero não determina necessariamente o que se deseja porque existe um desejo primordial que é constitutivo para todos: é o desejo de ser reconhecido. Somente pela experiência de reconhecimento nós nos tornamos sociais. E já não se trata de falar de feminismo como questão exclusiva das mulheres, mas de um projeto radical de transformação da sociedade como um todo: um projeto de despatriarcalização, de descolonização, com amplo teor social e ecológico.

Você não pode perder essa conferência, que pode ser vista na íntegra aqui: https://www.youtube.com/watch?v=X6e6TrEAnX0

O uso de máscaras: um gesto de (auto) cuidado e empatia para com o próximo

Lívia Fração Sanchez
Doutora em Psicologia Clínica (UNISINOS).
Psicoterapeuta Psicanalítica (IEPP) e Analista em
Formação (SPPA). livia_sanchez@hotmail.com

O uso de máscaras: um gesto de (auto) cuidado e empatia para com o próximo. Evidências científicas sobre o novo coronavírus indicam que a adoção de medidas de proteção como o distanciamento social e o uso de
máscaras de proteção minimizam a chance de contaminação e transmissão do vírus. Baseado nisso, decretos que tornam obrigatório o emprego de
máscaras em estabelecimentos fechados foram publicados em todo o país. Apesar da obrigatoriedade e/ou recomendação de tais equipamentos como método de prevenção ao Covid-19, algumas pessoas, ainda relutam em usá-la e só o fazem em locais no qual o seu uso é obrigatório por lei. O que explica tal comportamento? E para aqueles lugares em que a única
lei que vigora é a lei do bom senso? Para estes, o uso da máscara não é lei, contudo sua utilização segue sendo recomendada e vital para que a nossa saúde e a do próximo sejam preservadas.
Freud, em O Mal Estar na Civilização, afirma que algum limite de nossos desejos é necessário para que ocorra o processo civilizatório. Viver em sociedade exige renuncias. Em tempos de pandemia mais do que nunca tais renuncias se fazem necessárias. Precisamos abrir mão do nosso narcisismo e da ilusão de onipotência de que somos seres acima do bem e do mal.
Acredito que a resistência de algumas pessoas ao uso de máscaras apresente fortes componentes psicológicos. Um deles, diz respeito a possíveis falhas na capacidade empática, que se refere à habilidade de
inferir pensamentos e emoções dos outros. Em época de pandemia, colocar-se no lugar do outro, especialmente no dos idosos e de pessoas do grupo de
risco se torna fundamental no combate ao vírus. Não utilizar máscaras, frente à situação atual, mais do que um descuido consigo é um não cuidado para com o próximo, o que deixa de ser um problema individual e
passa a ser um problema coletivo. Nesse sentido, falar de empatia torna-se fundamental nos tempos atuais.
Outra possível razão para tal comportamento é o mecanismo de negação, ou seja, agir como se a doença não existisse para não entrar em contato com a própria vulnerabilidade, desamparo e finitude. Temos que continuar aceitando esta nova realidade até que uma vacina seja disponibilizada, pois assim estaremos sendo empáticos e cuidadosos conosco e com o
próximo.

Nota de Agradecimento

Quando começamos a pensar nas atividades de quinta não tínhamos nem um nome definido, nem imaginávamos que teríamos o alcance que tivemos.
Fizemos o primeiro encontro a partir do desejo do Núcleo de Autismo. Nossa pretensão era compartilhar a discussão que havíamos realizado sobre o livro “A metafísica dos tubos” de Amélie Nothomb, que aliás, recomendamos a leitura. Mas acima de tudo tentar aplacar a distância que o isolamento social estava nos impondo. Lembrando que era recém março.
As primeiras atividades foram pensadas em pouco tempo. Lembro de conversarmos e nos perguntarmos: E semana que vem, faremos de novo? E logo em seguida as atividades ganharam um nome e foram tomando forma, de maneira independente.
Para nós, da Horizontes, estes encontros se tornaram vitais, nos deram ânimo, nos aproximaram de muitas pessoas e temáticas importantíssimas. Mesmo virtualmente conseguimos fortalecer vínculos e criar novos, ainda que, por enquanto, virtualmente.
A “Quinta-psicanalítica”, nos possibilitou lindos debates, e nos oportunizou conversar sobre temas com pessoas de diversas localidades, inclusive de países como Honduras, México, Argentina. Num momento em que não ter contato físico também é expressão de amor, conseguimos transformar distanciamentos em potencias.
Dia 03/12 encerramos estes encontros, pelo menos neste ano de 2020. E é com muita emoção que agradecemos a todas e todos que estiveram conosco neste momento. Desde nossa equipe que possibilitou que as atividades acontecessem, aos palestrantes, participantes e também aqueles que não puderam estar presentes em algumas quintas mas acessaram nosso canal do youtube para assistir aos encontros. Todos vocês fizeram parte dessa construção que mesmo com temáticas por vezes mais densa aplacaram nosso coração e estiveram junto conosco.
Nosso Muito Obrigada!!
Comissão Científica Horizontes

Link do YouTube:
https://www.youtube.com/channel/UCtQjpv1v2puJIqzQ1qJQfkA

Recomendações aos psicólogos que atendem de forma online

Edda Maria Mendonça Petersen – Psicóloga (CRP 07/7850)
Coordenadora do grupo de estudos em atendimento online

Se você tem interesse em atender de formas remota, aqui estão algumas recomendações para a sua prática.

1. Inscreva se na plataforma E-Psi do Conselho Federal de Psicologia.

2. Avalie a sua disponibilidade para esta forma de encontro. Nem todos se sentem à vontade em utilizar tecnologias da informação e comunicação (TIC)

3. Lembre-se que o seu próprio tratamento – análise ou psicoterapia – é fundamental para dar conta dos próprios conteúdos que os pacientes mobilizam.

4. Estude e supervisione! Ainda não temos uma vasta produção científica neste campo, mas muitas instituições e profissionais oferecem um espaço de questionamento e investigação sobre o assunto.

5. Conheça as diferentes tecnologias que podem ser usadas para atendimentos remotos. Veja com qual você se identifica mais e tem mais facilidade de manusear. Informe-se sobre as melhores garantias de sigilo e confidencialidade.

6. Escolha um local adequado para realizar o atendimento, com privacidade e segurança, com uma boa e estável conexão de internet e iluminação adequada. A distância entre você e a tela deve ser suficiente para que não fique nem muito perto, pois seu paciente verá seu rosto muito grande e não tão longe que sua imagem e volume de sua fala não fiquem comprometidos.

7. Trabalhe a aliança terapêutica com o seu paciente e com a família deste, principalmente se for um atendimento de crianças e adolescentes.

8. Faça um contrato ou recontrato claro que, além das questões que precisam estar acertadas, contemple situações como compartilhamento da responsabilidade com o setting, o que acontece se a conexão cair, e outras situações que podem ocorrer.

9. Avalie a real possibilidade deste atendimento ocorrer de forma remota. Nem todos os pacientes podem ou devem ser atendidos desta maneira. Há casos onde há contra indicação desta forma de atendimento.

10.Ter uma boa bagagem de estudo de autores clássicos que orientam sobre a técnica psicoterápica e saber que haverá situações onde as adaptações deverão ser feitas.

11.Combine como será a dinâmica do atendimento, por exemplo, que o paciente chame seu terapeuta no horário da sessão e como proceder caso o terapeuta se atrase. Combine como serão as faltas, os atrasos, etc.

12.Podem acontecer ajustes necessários. Avalie de forma responsável cada um deles levando em conta o conteúdo inconsciente implicado nisto.

13.Trabalhe com a possibilidade de o paciente não conseguir evitar que o conteúdo da sessão vaze. O cuidado e a responsabilidade pela manutenção do setting passam a ser compartilhados nas situações remotas. Nesta modalidade, não temos como garantir 100% de possibilidade se sigilo, devido aos fatores externos e risco pela ferramenta escolhida.

14.Deixe seu aparelho celular estável e combine que o paciente também deixe o dele. Isto facilita o conforto visual, se você utilizar essa forma de aparelho para as sessões.

15.Nem todos os pacientes farão as sessões por vídeo. alguns usarão voz e isto pode facilitar a proximidade com o que se vivencia no atendimento presencial.

16.Lembre-se de fazer um intervalo entre as seções. Isto evita que um atendimento interfira no outro e lhe possibilita sair da posição em que você se encontra, caminhar, mudar a vista do cenário.

17.Contar com uma rede de apoio para situações de encaminhamentos emergenciais é muito importante.

18.Ter o contato de familiares pode ser fundamental para situações de risco durante o processo de tratamento.

19.As resistências, os silêncios, também estarão presentes.

20. Acredite que o processo transferencial pode ocorrer da mesma forma nos atendimentos online.

21.Confie na sua contratransferência. Ela é uma ferramenta muito importante também no atendimento online.

Nos atendimentos com crianças, além destes fatores, é muito importante lembrar que:

– É muito comum que crianças que se encontram antes da latência não consigam fazer as seções online sem a presença de um adulto responsável. Já as que estão na latência apresentam maior possibilidade de atendimento similar ao presencial e de se responsabilizarem também pela manutenção do setting.

– Com situações onde seja muito difícil para os pais não participarem da sessão dos filhos, pode-se combinar um tempo para que eles tenham o contato com o terapeuta, pois no atendimento presencial isto geralmente ocorre na chegada e na saída da criança do consultório.

– Lembre-se que o terapeuta está dentro da casa de seu paciente e isto nem sempre é confortável para a família.

– Cuide da sua curiosidade! Pode ser muito tentador querer conhecer a casa, a família, os bichos de estimação. Entenda de quem é a demanda para que essas coisas aconteçam.

– Fique atento a segurança das crianças durante o atendimento, pois podem se desorganizar. Tenha o contato dos responsáveis caso seja necessária alguma intervenção além da sua fala.

– Avalie a capacidade lúdica de seu paciente. Ela é muito importante para que a criatividade surja no atendimento. Tenha você também capacidade criativa para brincar online.

– Saiba que as crianças são nativos digitais. Conheça a linguagem delas.

– Tenha autorização por escrito dos pais ou responsáveis para realizar o atendimento de forma online.

Lembre-se que ainda estamos muito no início da produção de conteúdo sobre o atendimento online e que muitos questionamentos ainda serão feitos.


17/11 – Dia Mundial da Prematuridade

Autoras: Juciane Feijó e Renata Rehm
Estagiárias em ênfase específico – Psicologia Clínica. Estudantes de Psicologia em UniRitter.

Durante o mês de Novembro, no qual pode ser chamado de “Novembro roxo”, mas especificamente no dia 17 de Novembro é celebrado o dia da Prematuridade. Ele foi criado para um cuidado e também para conscientizar falando sobre algo tão importante, pois a
prematuridade atinge 15 milhões por ano nos recém nascidos. As complicações não são apenas referente ao baixo peso, mas também pelas questões dos cuidados essenciais que são necessárias na UTI, o que acaba aumentando o risco de morte e também sequelas futuramente durante o crescimento. Em 2009, também é conhecido o Dia Internacional da
Sensibilização para a Prematuridade, sendo celebrada em mais de 50 países, com o objetivo de analisar estratégias para a baixa de números de prematuros. É necessário o cuidado pois o parto prematuro pode prevenido com os cuidados necessários, por exemplo, o pré-natal se
iniciado da maneira correta.
Sendo assim, os fatores relacionados à prematuridade são diversos, e em muitos casos não depende do cuidado dos pais. Uma das causas estaria correlacionado a idade materna maior que 40 anos, ou menor que 20 anos, já que as mães com idade uterina imatura, também apresentam índice de risco em antecipar o trabalho de parto. A questão socioeconômica também é outra condição, na qual recai sobre a saúde materna e consequentemente do recém nascido. Esta, por si só pode decorrer de múltiplas dificuldades que antecedem a gestação, como a possibilidade de acesso a alimentos de boa qualidade e quantidade, assim como o acompanhamento pré natal adequado. A gestação de múltiplos se tornou comum hoje em dia,
diante da busca por tratamentos de fertilização, no entanto engloba como sendo mais um dos fatores ligados à prematuridade.
Visto isso, é fundamental que haja uma atenção voltada aos acontecimentos que vão desde o sangramento vaginal em torno do segundo trimestre de gestação, assim como o amadurecimento cervical; hábito de fumar e exposição a outras substancias; ser mãe solteira; ocupação materna em atividade profissional remunerada; alteração de peso inadequado da
mãe, que pode ser desencadeado tanto por fatores orgânicos quanto psicológicos; raça/cor e tipo de parto.
Durante o processo os prematuros precisam ficar na UTI, isso acaba gerando diversos medos e ansiedades dos pais. São diversos os medos, o da perda, de sequelas e após a alta o medo de como dar o devido cuidado em casa. Por isso a necessidade do estudo mais eficaz para os recém-nascidos, mas também para o sofrimento desses pais. Na clínica Horizontes se dispõe
do grupo Estudo de bebês coordenados pelas psicólogas Josiane Weiss e Lisandra Salles.

Os encontros ocorrem semanalmente, sexta-feira, no horário das 13h30 às 14h30 voltado a estudantes e profissionais. Mais informações com a secretaria da clínica.

Referências:
PREMATURIDADE: ENTENDA AS CAUSAS E OS CUIDADOS NECESSÁRIOS. Prematuridade, 2017. Disponivel em: https://prematuridade.com/index.php/interna-post/prematuridade-entenda-as-causas-e-os-cuidados-necessarios-8599 Acesso em: 15 nov. 2020.
GUIMARÃES, E. et al. PREVALÊNCIA E FATORES ASSOCIADOS À PREMATURIDADE EM DIVINÓPOLIS, MINAS GERAIS, 2008-2011: ANÁLISE DO SISTEMA DE INFORMAÇÕES SOBRE NASCIDOS VIVOS. V. 26. Brasilia: Epidemiol. Serv. Saúde. Mar, 2017.
SADECK, Lilian dos Santos Rodrigues. DIA MUNDIAL DA PREMATURIDADE. 2017. Disponível em: https://www.spsp.org.br/2017/11/13/dia-mundial-da-prematuridade/. Acesso em: 15 nov. 2020.
SADOVSKY, A. et al. INIQUIDADES SOCIOECONÔMICAS EM NASCIMENTOS PREMATUROS EM QUATRO ESTUDOS BRASILEIROS DE COORTES DE NASCIMENTO. J Pediatr (Rio J). 2018;94:15-22.

NOVEMBRO AZUL: Os cuidados do homem

Leize Gracieli Rocha
Aluna de Psicologia na Faculdade Anhanguera, Estagiária na modalidade Básico.

No Brasil nascem mais homens que mulheres, com tudo vivem menos e com menor qualidade. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida dos homens em 2012 era de 71 anos, enquanto que das mulheres era de 78 anos. Embora a violência seja um dos fatores que justifique essa diferença, a falta de cuidado com a saúde também tem um peso grande. (PRONCOR, 2019)
Culturalmente o homem procura menos acompanhamento médico, porque
tem menor preocupação com cuidados em saúde. Os homens, só vão ao médico quando a “situação já está grave”. Má alimentação, alto consumo de bebidas alcoólicas, tabagismo e altos níveis de estresse são causas de inúmeras doenças que não tem a devida atenção masculina.
O relatório Perfil da Saúde do Homem no Brasil, divulgado pelo Ministério da Saúde, mostra que a população masculina sofre, por exemplo, seis vezes mais de transtornos mentais e comportamentais que as mulheres (PRONCOR, 2019). Suicídios, agressões físicas, dependência química, são mais efetivos e presente nos homens.
O Novembro azul, é um movimento que surgiu na Austrália, em 2003,
chamado Movember, aproveitando as comemorações do Dia Mundial de Combate ao Câncer de Próstata, realizado no dia 17 de novembro. Em vários países, o Movember é mais do que uma simples campanha de conscientização. Há reuniões entre os homens com o cultivo de bigodes (ao estilo Mario Bros), símbolo da campanha, onde são debatidos, além do câncer de próstata, outras doenças como o câncer de testículo, depressão masculina, cultivo da saúde do homem, entre outros.
Desmistificar, que cuidados com a saúde não é fragilidade. Desmistificar, que o homem forte não é o que não adoece, mas aquele que cuida de sí. São os grandes desafios para haver uma mudança de atitude do homem frente a sua saúde. Um homem com autocuidado é forte e responsável. Um homem, que demonstra atenção por sua saúde, está cuidando e honrando sua família.
Fomentar mais as campanhas de conscientização. Envolver a família e locais de trabalho, são meios de engajar e encorajar o homem para os cuidados com sua saúde. Tão importante quanto o homem cuidar da sua saúde, é o acolhimento no caso de um diagnóstico positivo. Ser cuidado, é um tabu para o homem. O olhar empático e de respeito deve ser presente nas rede de apoio familiar e de tratamento de saúde.
Igualdade nos cuidados, igualdade no ver e nas responsabilidades. Talvez
seja o caminho para auxiliar e encorajar o homem no cuidado com sua saúde.

Bibliografia
Oliveira PP. A Construção social da masculinidade. Belo Horizonte: Editora
UFMG; 2004. https://www.hospitalproncor.com.br/post/saude-do-homem.
Gomes Romeu. Por que os homens buscam menos os serviços de saúde do que as mulheres? As explicações de homens com baixa escolaridade e homens com ensino superior. Instituto Fernandes Figueira, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil; 2007.

12 a 18 de outubro – Semana Nacional de Prevenção da Violência na Primeira Infância

Júlia Vieira Lipert Pazzim CRP 07/28162
Franciane Moreira Moresco CRP 07/27076


Em setembro de 2007 foi instituída a Semana Nacional de Prevenção da
Violência na Primeira Infância, celebrada de 12 a 18 de outubro. Nesta semana são desenvolvidas atividades que visam o esclarecimento e a conscientização da comunidade a respeito da violência na primeira infância e da importância do período entre zero e seis anos de idade (primeira infância) na formação de um sujeito com uma constituição psíquica saudável e com isso, se forme um cidadão mais apto à convivência social e à cultura da paz (BRASIL, 2007).
A constituição psíquica do sujeito tece suas primeiras marcas quando a ideia de existência de um bebê começa a ser concebida. Após o nascimento, ocorrem inúmeras mudanças, pautadas pelo amadurecimento emocional e neurológico do recém-nascido (RN). O cérebro ainda imaturo do RN torna possível o registro de experiências e o acúmulo de informações. Para além das bases neurobiológicas e hereditárias que determinam uma tendência ao amadurecimento do sujeito, existem os fatores emocionais e os processos íntimos da relação mãe-bebê que levam inicialmente o RN de uma dependência absoluta do outro para uma dependência relativa e por fim segue rumo à independência (Winnicott, 1967).
O amadurecimento do bebê e as conquistas nos marcos do desenvolvimento
dependem em grande parte, das condições ambientais. Winnicott (1967) nos mostrou que todo o relacionamento desse indivíduo com o mundo concreto se baseia nos primeiros cuidados e experiências que fazem parte da inter-relação humana entre a criança e quem a cuida. A presença de cuidadores atentos e disponíveis às necessidades básicas do bebê cria um ambiente suficientemente bom, que permite a criança viver sem temor de se desintegrar frente às angústias do mundo externo.
Por outro lado, um ambiente não suficientemente bom distorce o
desenvolvimento da criança. Traumas precoces caracterizados por importantes falhas parentais, negligência, violências física, sexual e psicológica acarretam sofrimento psíquico na primeira infância. Esses acontecimentos invadem o mundo subjetivo da criança num momento em que não há defesas organizadas para lidar, devido à imaturidade do aparelho psíquico. Com isso, as experiências traumáticas inserem um dano narcísico e dilaceram o ego, causam rupturas no desenvolvimento, quebram sua continuidade de ser e suscitam agonias impensáveis. A incapacidade de contenção afetiva, o significado e a estruturação da experiência colocam a criança num funcionamento caótico, trazendo consequências para toda sua vida. Estas são devastadoras e acarretam prejuízos nos âmbitos cognitivo, afetivo e relacional.
Diante disso, cabe ressaltar a importância de promover condições favoráveis e um ambiente suficientemente bom para que as crianças possam se desenvolver da melhor maneira possível. É importante lembrar que “falhas” parentais fazem parte da vida e que não necessariamente se constituem violências. “Falhar” no sentido de ser um ser humano normal e que ainda está buscando aprender a ser na relação com o bebê, é essencial para o seu desenvolvimento. Winnicott (1979) instigado pelo tema referiu:

“Tenho de ser cuidadoso. Ao descrever com tanta desenvoltura o que
as crianças muito pequenas necessitam, pode parecer que espero
dos pais a impecável conduta de anjos altruístas num mundo ideal,
como um jardim suburbano no verão, com o pai cortando grama, a
mãe preparando o jantar dominical, e o cão ladrando por cima da
cerca para o cão do vizinho. Pode-se dizer das crianças mesmo
bebês, que não lhes interessa a perfeição mecânica. Precisam de
seres humanos à sua volta, que tenham êxitos e fracassos. Gosto de
usar as palavras “suficientemente bons”, que significa eu e você,
sendo nós mesmos e ocupando um lugar especial como meio
ambiente e como provedor ambiental ao crescimento saudável de
nossas crianças”. (p. 141,143).

BRASIL. Lei nº 11.523/07, de 18 de setembro da Presidência da República, Casa Civil (2007). Acesso em https://presrepublica.jusbrasil.com.br/legislacao/94497/lei-11523-07
BOKANOWSKI, T. (2005). Variaciones sobre el concepto de “traumatísmo”:
traumatísmo, traumático, trauma. Psicoanálisis APdeBA, Vol. XXVII, nº 1/2, p. 41-57.
MALGARIM, B. G. & BENETTI, S. P. C. (2011). O abuso sexual: estudos de casos em cenas incestuosas. Estudos de Psicologia (Campinas), 28(4), 511-519. https://dx.doi.org/10.1590/S0103-166X2011000400011
WINNICOTT, D. W. (1967) As origens do individuo. In: Winnicott, (1987) O bebê e suas mães. Obras escolhidas. Rio de Janeiro: Imago, 2000, pp.64-72.
WINNICOTT, D. W. (1999). In: A construção da confiança – Conversando com pais. São Paulo: Martins Fontes, cap. 11, p.141-144.

VAMOS FALAR DE: PATERNIDADE

Marilei Zanini
Estudante de Psicologia na PUCRS. Estagiária em Psicologia Clínica.

EVENTO DE 10/08/2020 – Paternidades hoje, com Sérgio Lewkowicz

Na pós-modernidade, vivemos o declínio do patriarcado e toda a insegurança que decorre de um movimento cultural irreversível. O homem não é mais dono de sua mulher, dos seus filhos ou de seus escravos. Nem mesmo para ter filhos, os homens são imprescindíveis porque uma mulher pode ser mãe simplesmente adotando um embrião fertilizado em laboratório com um óvulo e um esperma de pessoas anônimas. Cai o mito do falocentrismo e a questão é: o que vamos colocar no lugar?
A família nuclear tradicional – com pai, mãe e filhos biológicos – está em franco processo de extinção no sentido de ser a única opção para a vida humana. Então, qual é o papel do pai? Qual é o papel da mãe? E o que o filho precisa receber dessas duas funções – paternidade e maternidade – para se constituir um sujeito de poder e de saber por conta própria?
Não são apenas os laços de parentesco que constituem uma família, longe disso, afirma o psicanalista Sérgio Lewkowicz. Ele lembra que “família” é algo que se constitui com afeto, compromisso ético, solidariedade e a intimidade que o grupo envolvido consegue gerar: “pai e mãe não nascem prontos, eles se formam à medida em que são exigidos nessas tarefas”. Portanto, Lewkowicz afirma que paternidade e maternidade têm a ver com a capacidade de homens e mulheres de “adotarem” seus filhos, sejam biológicos ou não. “Somente se puderem adotar seus filhos, homens e mulheres saberão o que é ser pai e ser mãe”.
Ou seja, paternidade e maternidade estão muito além do sexo, do gênero, dos envolvidos. E você pode assistir a essa brilhante discussão no canal da Horizontes no YouTube acessando esse link: https://www.youtube.com/watch?v=CdBO1nrtc98

10/10 – Dia da Saúde Mental

SAÚDE MENTAL

Nicole Mamede. Estudante de psicologia na Faculdade São Francisco de Assis. Estagiária em Psicologia Clínica.

Pode-se dizer que a cada dia vêm se disseminando uma maior conscientização do que vem a ser a saúde mental e o quão necessário é cuidar desta, dado que é sistêmico o funcionamento mental ao corporal. Muitas patologias ligadas ao funcionamento psíquico, de importância ignorada e negligenciada em gerações anteriores, vêm sendo cada vez mais conhecidas e têm levado mais pessoas a procurar profissionais que possam ajudá-las.
O adoecimento psíquico pode se dar pela sobrecarga de estímulos (exigências externas e internas) diante das condições que cada um tem de suportar, lidar, ou mesmo enfrentar. Não é sobre fraquezas e comparações entre as pessoas, mas sobre considerar que cada um tem sua história de vida e que cada pessoa foi modulada por diversos fatores a reagir de alguma forma, o que nos leva a ao conceito de singularidade, sendo este o conjunto de aspectos vividos em uma perspectiva individual para com a realidade e que, portanto, nos torna únicos.
Alguns estigmas também vêm sendo questionados no que diz respeito à saúde mental. Um deles é sobre a possibilidade de qualidade de vida à sujeitos que sofram de algum transtorno psíquico. E sim, a saúde implica não apenas em um tratamento contrário à doença, mas, de uma forma mais ampla, à promoção de bem-estar na vida de cada um, sendo importante então esse investimento na parte saudável de cada um, pois nenhum sujeito funciona permanentemente em crise ou é constituído de uma total patologia.
O cuidado na saúde mental solicita que possamos dar atenção aos nossos processos, internos e externos, pois estão interligados e afetam o nosso funcionamento geral. Atentar a como o corpo e a mente respondem às relações diversas, aos ambientes onde se transita, aos recursos materiais disponíveis e à forma como se lida consigo mesmo, bem como ao cuidados e descuidados que possam estar presentes em todas estas dinâmicas, é algo que pode alertar sobre o que é de responsabilidade de si, do outro, ou mesmo da combinação produzida pelo “nós” do coletivo, favorecendo uma possível redução de potenciais estressores que estão fora de nosso controle e um aumento de autonomia quanto à autopercepção.
Além das condições orgânicas necessárias na promoção de saúde, como sono, alimentação e hidratação adequados; baixo nível de estresse, prática de atividade física; há também essa contingência à qual todos estão submetidos, de uma forma geral, que é o convívio social. E ao considerar o ritmo acelerado de vida na atualidade, a dificuldade em conseguir lidar com diversas necessidades e atividades cotidianas pode colocar o psiquismo em risco de adquirir um transtorno decorrente de sofrimento produzido por tais experiências.
A qualidade de vida está ligada a como se processa e reage aos eventos que ocorrem no dia-a-dia, e ao autoconhecimento que cada um dispõe para gerir as situações, sem que se produza o sofrimento de forma excessiva, que é capaz de colocar o indivíduo em uma zona paralisadora, desgastante e desoladora.
É de extrema importância que se busque por ajuda de profissionais qualificados da área psi (psicoterapeutas, psicólogos e psiquiatras), ou mesmo por serviços interdisciplinares (em rede) dos demais profissionais da área da saúde, para o auxílio no manejo de situações críticas no que diz respeito ao sofrimento psíquico e aos seus possíveis efeitos no corpo, e na vida como um todo, de cada sujeito.

REFERÊNCIAS: GAINO, Loraine Vivian; SOUZA, Jacqueline de Souza; CIRINEU, Cleber Tiago; TULIMOSKY, Talissa Daniele. O conceito de saúde mental para profissionais de saúde: um estudo transversal e qualitativo. SMAD, Rev. Eletrônica Saúde Mental Álcool Drog. Abr.-Jun 2018. Disponível em:

Outubro Rosa: para quem?

Waleska Pedruzzi
Psicóloga CPR 07/28834

É chegado o mês em que todos estamos voltados aos cuidados sobre o câncer de mama. Estando no mês de outubro, e com a campanha em alta, muitos são os sentimentos que nos despertam enquanto sociedade.

Muito embora o câncer de mama não seja uma doença que acomete somente as mulheres, naturalmente os olhares voltam-se mais a elas, que estatisticamente possuem maior incidência da doença do que o público masculino.

No entanto, me ocorre pensar que os cuidados com o corpo feminino estão diretamente associado à posição na qual nós, mulheres, ocupamos enquanto sujeito inseridos na nossa atual cultura e contexto.

Gosto de conversar sobre a distinção sobre o ser mulher, e o ser feminino. Acredito que seja por essa razão que tenho um grato espaço para partilhar esta escrita com vocês, que estão acompanhando a leitura.

Convido-os novamente a refletir porque os cuidados com as mulheres também envolvem os cuidados com o seu feminino. Em uma sociedade que está pouco a pouco ganhando voz e potência, pergunto a você, mulher: sabe como se faz o autoexame?

Essa questão parece simples, e corre o risco de passar despercebida. Cuidado! Acredito que as mulheres começaram recentemente a sentirem-se autorizadas frente ao ato de tocarem-se.

Em decorrência desta razão é que sinalizo que o cuidado, a campanha, tem um início muito anterior a datas. Permitir-se enquanto mulher é marco anterior, é inscrição simbólica!

Quando perguntei “para quem”, já sabia a resposta. Mas ratifico: para mim, para você, para todos!

Cuidem-se! Amem-se! Previnam-se! Busquem auxílio.