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Síntese Do Texto What Happens In The Brain As Very Young Children Learn


Por Saul Cypel
. Professor Livre Docente de Neurologia Infantil pela Faculdade de Medicina da USP
. Membro Titular da Academia de Medicina de São Paulo
. Membro Titular da Academia Brasileira de Pediatria
. Ex Assistente de Pesquisa do Instituto de Neurologia – London University- Inglaterra

Os mais recentes avanços da neurociência permitem a investigação do desenvolvimento das estruturas cerebrais em bebês desde a gestação. O desenvolvimento neurológico é um processo contínuo em que as conquistas de novas habilidades dependem do aprendizado de habilidades anteriores. Entretanto, para que esse avanço gradual ocorra, faz-se necessário a presença de três componentes básicos, que se relacionam constantemente, são eles: estrutura neurobiológica (maturidade cerebral), estimulação (encorajamento dos cuidadores) e afeto (ambiente acolhedor).

O sistema nervoso inicia sua estruturação poucas semanas após a concepção, a maturação cerebral se dá a partir da multiplicação neuronal (entre 10 e 14 semanas de gravidez), passando pela migração e organização da arquitetura celular, pela posterior formação das sinapses e terminando com o revestimento neuronal (formação da mielina). A comunicação cerebral entre suas diferentes partes ocorre através das substâncias chamadas neurotransmissores (como a dopamina).

A genética assume o papel predominante nas transformações das estruturas cerebrais durante a gestação. Posteriormente, o ambiente, as experiências e as relações possuem o potencial de modificar as tendências genéticas, essa influência externa recebe o nome de Epigenética. Da mesma forma que o cérebro gera novos neurônios e conexões, existe um processo contrário chamado “poda neural”, que consiste na eliminação de conexões não utilizadas, a “poda neural” inicia no nascimento e vai até a adolescência, o aprendizado que não usamos acaba sendo eliminado, reforçando a importância dos estímulos ambientais.

Sabe-se que existem períodos críticos(sensíveis) diferentes para cada tipo de aprendizagem, de funções básicas como a audição até as mais complexas como das emoções. Felizmente, a capacidade de plasticidade cerebral pode nos permitir aprender em períodos posteriores, mesmo sem os devidos estímulos de aprendizagem durante os períodos críticos. Ao mesmo tempo que é prejudicial ao aprendizado a apresentação de estímulos de maneira tardia, tentar estimular uma aprendizagem antes do tempo pode aumentar níveis de estresse e ser um complicador do desenvolvimento emocional.

Os conhecimentos a respeito do desenvolvimento neurológico, dos períodos mais sensíveis para as diferentes aprendizagens, da importância do ambiente e dos cuidadores que influenciam no desenvolvimento cerebral, abrem horizontes para reflexões inovadoras sobre o cuidado, avaliação e intervenções com infantes desde antes do nascimento.

Confira mais sobre a Jornada 2023:

Com o tema “Litoral entre Psicanálises e Neurociências: pesquisas e clínica”, nossa convidada é Marie Christine Laznik! A Jornada 2023 ocorrerá nos dias 18 e 19 de Agosto e será PRESENCIAL no Hotel Plaza São Rafael, em Porto Alegre/RS

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https://www.sympla.com.br/evento/litoral-entre-psicanalises-e-neurociencias-pesquisas-e-clinica-jornada-2023-instituto-horizontes/1800140

Revista Horizontes Psicanalíticos

A Revista Horizontes Psicanalíticos é uma publicação científica do Instituto Horizontes desde 2021. O periódico é dirigido para profissionais, estudantes, professores e pesquisadores interessados em Psicanálise. Seu objetivo é publicar artigos inéditos que contribuam para o desenvolvimento do pensamento psicanalítico. Desta forma, a revista se interessa pela publicação de manuscritos que fomentem o avanço na Psicanálise através de publicações sobre teoria e técnica psicanalítica, história da psicanálise, formação psicanalítica, pesquisa psicanalítica e estudos de casos clínicos com ênfase em psicanálise. Cada número da revista poderá incluir artigos teóricos, empíricos com fundamentação psicanalítica, relatos de experiência, artigos de estudos de caso clínicos ou vinhetas clínicas, ensaios, resenhas de livros e entrevistas. Nela abordamos temas atuais e condizentes com a situação que estamos vivendo.

Para colaborar com a revista, faça o download dos Termos, Templates e Normas abaixo de acordo com o formato de conteúdo escolhido:

INCLUSÃO E CULTURA DEFICIENTE

Texto de: Marta Müller Stumpf

Imagino que a maioria de vocês conheça o conto “O Alienista” de Machado de Assis. Quem não leu, leia. Muito resumidamente, nesse irônico conto conhecemos a história do médico Simão Bacamarte, que decidiu seguir a profissão de psiquiatra em Itaguaí, junto de sua esposa Evarista. Ele monta na cidade uma espécie de hospício, com o nome de Casa Verde, onde busca analisar o homem e realizar suas pesquisas científicas, porém a população não recebe bem suas idéias e ele decide aprisionar os loucos, em determinado momento o médico passa a considerar todos loucos, inclusive sua própria esposa e por final ele mesmo.

Com o embasamento nessa literatura realista de Machado de Assis, farei algumas observações sobre a forma como a segregação atinge nossas vidas e como ainda temos “Itaguaís” pelo mundo. Quem representa o Dr. Simão Bacamarte e a Casa Verde no nosso cenário atual? Quem é nosso messias?

Davi Rodrigues, um excelente estudioso da educação inclusiva, sempre se refere a uma frase que penso muito: “A inclusão deve lidar com a diferença para que ela não origine a desigualdade social”. Essa frase é simples e complexa, pois reflete o direito multiplicador da inclusão, o desejo da diversidade, de educação para todos, que privilegie o lugar de fala de cada um. Na educação inclusiva precisamos contemplar 3 aspectos: – a primeira infância por sua importância; – os ambientes capacitantes e – a neuroplasticidade.

Pergunto a vocês: se a educação é para todos e a nossa sociedade tem que ser para todos também, como admitir a existência de uma “casa verde” nos dias de hoje? Escola especial não é inclusão, é segregação, uma casa que se destina a abrigar o diferente não é inclusão, é segregação, pois parte de uma visão de que posso ter mais mérito do que o outro, de avaliar ou classificar o outro e eu? para pensar…

Vamos a um pouco de história: desde o século XVIII as sociedades definiram as diferenças entre normal e anormal, o anormal era excluído,

escondido; no final do século XIX os transtornos mentais começaram a ser diagnosticados, como fazia Dr Simão, que classificava os loucos como furiosos e mansos, detentores de monomanias, delírios e alucinações diversas. No século XX surgiram os asilos, os depósitos de pessoas, como o “cárcere privado” chamado “Casa Verde”. A ciência se debatia em busca de classificações, Simão Bacamarte e o boticário também. Manuais procuravam respostas para as tais “coisas humanas”. Não havia explicação cartesiana para nenhuma dessas questões complexas do homem, nem na casa verde e nem hoje há. Estamos no século XXI e ainda hoje vemos abrigos de pessoas segregadas por uma sociedade que não acredita em equidade na teoria e na prática e ousam falar de meritocracia. Falta empatia, falta essa tal coisa humana… Davi Rodrigues fala em utopia, o que seria isso? Quem acredita em inclusão está falando de utopia? Utopia é esse não-lugar, esse farol que nos faz caminhar, uma esperança ativa.

Podemos pensar numa casa que promova saúde, na qual a diversidade seja respeitada, acolhida e valorizada; uma casa onde predomine a empatia, em que prevaleça uma ética do cuidado, como bem nos mostra Emmi Pikler, Sandor Ferenczi e todo o pessoal que promove saúde. Quem pode avaliar quem visita essa casa? Nessa casa ninguém fica, visita, não é um cárcere, mas uma casa que podemos visitar quando necessitamos ou desejamos. Nessa casa utópica não existe uma classificação de pessoas, existem seres humanos diferentes, como eu e você. Nessa casa as angústias do boticário tem escuta, tem auxílio, tem voz e tem vez, é uma casa para todos, o lema é: Nada sobre nós sem nós. Aprendemos juntos, colocamos metas juntos.

Quando penso em Sandor Ferenczi e no processo da inclusão, sempre vem em minha mente alguns textos de sua obra: o Adestramento de um cavalo selvagem de 1916, Adaptação da Família à Criança de 1928 e A Criança mal acolhida e sua pulsão de morte de 1929.

Em Adestramento de um cavalo selvagem o autor traz a questão sobre como domesticar um ser, faz uma analogia do adestramento com as relações parentais abusivas e como nessas relações os cuidadores utilizam métodos que oscilam entre doçura e intimidação, contendo uma dupla mensagem que captura o sujeito. Nesse curto capítulo Ferenczi traz a ideia de que um ser humano submetido, no decorrer de sua infância, a esses excessos de ternura

e intimidação, corre o risco de perder para sempre a capacidade de agir com independência. Essas crianças domesticadas seriam mais tarde os sujeitos sempre receptivos à sugestão parental e também a maioria dos neuróticos. Podemos questionar se, no modelo médico de reabilitação, não há um manejo de submissão das pessoas com deficiência, como os loucos mansos de Simão Bacamarte, e não uma relação e ambiente que acolham e promovam saúde de fato. Para além das deficiências temos que pensar num modelo de saúde que proporcione socialização sem alienação e que opere orientação sem oposição repressiva.

Em Adaptação da família à criança Ferenczi (1928) nos evoca a pensar o quanto a família deve se adaptar à criança e não o contrário, como costuma ocorrer. Escreve que a psicanálise deve às crianças uma melhor compreensão e que os cuidadores devem se compreender melhor também, pois, segundo o provérbio alemão citado por ele, tornar-se pai é mais fácil do que ser. Para o autor, a falta de apreensão da própria infância é o maior obstáculo que impede os cuidadores de compreenderem as questões essenciais da educação. A passagem da primeira infância primitiva à civilização pode ser traumática quando cuidadores não lidam bem com suas próprias questões. As dificuldades de adaptação das crianças estão intimamente ligadas ao seu desenvolvimento sexual e na relação de dependência com seu meio circundante. Há uma identificação com a autoridade que pune, abusa, maltrata ou desampara e cada criança estabelece dentro de si pais e mães interiores.

No texto A Criança Mal Acolhida e sua pulsão de morte de 1929 Ferenczi nos faz refletir sobre o quanto crianças que foram hóspedes não bem-vindos na família irão registrar esses sinais de aversão, impaciência e pouco amor repercutindo na vontade de morrer, perdendo o gosto pela vida muito precocemente. O brilhante autor já considerava a importância fundamental do ambiente no decorrer desse processo de adaptação da família à criança, ele diz: “A criança deve ser levada, por um prodigioso dispêndio de amor, de ternura e de cuidados, a perdoar aos pais por terem-na posto no mundo sem lhe perguntar qual era a sua intenção, pois, caso contrário, as pulsões de destruição logo entram em ação”.

Na mesma Hungria de Ferenczi temos a pediatra Emmi Pikler e seu trabalho lindo com as crianças abandonadas no período pós guerra que foram

acolhidas no instituto Lóczy. A recuperação da condição humana como sujeito de suas emoções, movimentos e interações mudou o destino das crianças que passaram por lá e que ainda passam pelo instituto. Ainda hoje vemos que essa condição humana de sujeito é esquecida quando as crianças são meramente submetidas e adaptadas à sociedade enquanto a sociedade deve se adaptar a cada criança e sua peculiaridade. Precisamos cada vez mais estar atentos a essa ética do cuidado.

A leitura de “O Alienista” nos evoca a pensar também na forma perversa e trágica de obtenção de poder que a sociedade impõe. Freud e Foucault e suas obras geniais sobre a cultura sempre nos evocaram a pensar: Por que a diferença incomoda tanto? Desde 1919 em seu texto O Estranho, Freud nos faz pensar sobre a inquietação que o outro nos causa, o que tem de mim no outro, nesse sentir algo que é ao mesmo tempo estranho e familiar, nesse grande desafio do reconhecimento do eu como diferente do outro.

Foucault sempre se viu desafiado pelo tema da exclusão e esse mecanismo da nossa cultura ocidental que separa normalidade e anormalidade, interrogou saberes e poderes que traçam nosso discurso.

Desde a exclusão, segregação, integração até chegar à luz do farol da inclusão temos um longo caminho; esse processo requer força, potência, criatividade, humanidade, conhecimento e uma esperança ativa. Saber é poder…

Sabemos que assim como o racismo é estrutural, todo e qualquer tipo de exclusão é estrutural também, vivemos numa sociedade estruturalmente capacitista, preconceituosa, não há cura para o diferente, há sim relações e vivências que potencializam as pessoas e assim todos sofrem menos, ganham todos.

Não precisamos de corpos dóceis (loucos mansos como classificaria Dr Simão) precisamos de um modelo biopsicossocial para todos e da nossa luta por acessibilidade e promoção de saúde, porque de perto ninguém é normal.

Para encerrar cito uma frase de Andrew Solomon em seu brilhante livro “Longe da Árvore” de 2013:

“A paternidade nos joga abruptamente em uma relação permanente com um estranho, e quanto mais alheio o estranho, mais forte a sensação de negatividade. Contamos com a garantia de ver no rosto de nossos filhos

que não vamos morrer. Filhos cuja característica definidora aniquila a fantasia de imortalidade são um insulto em particular, devemos amá-los por si mesmos, e não pelo amor de nós mesmo neles, e isso é muito mais difícil de fazer. Amar os nossos filhos é um exercício para a imaginação”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Diniz, Débora. O que é deficiência. Ed: Brasiliense. SP. 2021

Falk, Judith (org). Educar os três primeiros anos: a experiência Pikler-Lóczy. Ed: Pedro e João editores. SP. 2021

Foucault, M. Microfísica do Poder. Ed: Paz & Terra. SP. 2021

Freud. O estranho. 1919. Obras Completas. vol XVII. Ed: Edição Standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud.

Ferenczi, S. (1913a). Adestramento de um cavalo selvagem. In S. Ferenczi (Vol. 2). SP. Ed: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1916).

Ferenczi, S. (1992b). Adaptação da família à criança. In S. Ferenczi, Psicanálise

IV. São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1928)

Ferenczi, S. (1992). A criança mal acolhida e sua pulsão de morte. In S. Ferenczi Psicanálise IV (A. Cabral, trad., pp. 47-52). São Paulo: Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1929)

Machado de Assis. O Alienista. Ed: Cobogô. SP. 2020

Appell,G., David, M. Maternidade insólita. Ed: omnisciência. SP 2021.

Rodrigues, D. Inclusão e Educação: Doze Olhares Sobre a Educação Inclusiva. Ed: Summus. SP. 2006

Solomon, A. Longe da Árvore. Ed: Companhia das Letras. SP. 2013.

27 de Agosto – Dia do psicólogo! Comemorativo as 58 anos da Psicologia no Brasil

27 de Agosto, dia do psicólogo.
Pela Lei 4.119 de 1962 regulamenta a profissão e pelos PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS do Código de Ética comemoramos hoje o dia do psicólogo. Somos 378.473 psicólogos* (número CFP 24/08/2020) percebendo e analisando o cenário, apoiado na potência do trabalho centrado no sujeito com suas singularidades, ampliaremos nossos Horizontes iluminando os 58 caminhos que nos trouxeram até aqui e o que ainda iremos trilhar. Vivemos tempos onde cada vez mais é necessária a confirmação de direitos e reforço no cuidado em saúde mental, além da capacitação dos profissionais em lidar com as demandas diárias da população que necessita da escuta qualificada as suas problemáticas sociais. O social, a comunidade que neste ano se encontrou sendo obrigado a ficar distante uns dos outros, também encontrou potencial na união virtual enquanto perdas importantes ocorrem. Promover a saúde em meio a pandemia se tornou um desafio que profissionais da saúde como um todo se reinventam a cada amanhecer, mas de que de modo nenhum isto se torna motivo de orgulho. A responsabilidade é social, a crítica é política, a Psicologia é ciência a clínica é viva. Já não estamos mais presos no grande campo da Filosofia, e nem da Medicina, simpatizamos com a Pedagogia, embora muito agradecidos pelas grandes áreas mães, crescemos a passos curtos em direção ao seu objetivo tornando esse grande campo de clínica, escola, empresa, hospital, esporte, trânsito, jurídica, social. Para o vestibulando, o estudante da graduação, o estagiário, o profissional, e todos aqueles que percebem a profissão no seu detalhe e consideram as ancoragens necessárias para estarmos aqui: um feliz dia 27. Deixo aqui sete artigos para que o pensamento siga vivo.

Texto: Psicóloga Kimberly M. Fernandes (CRP 07/32774)

Referências:
Código de Ética: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/codigo-de-etica-psicologia.pdf
A Psicologia no Brasil, Antonio Rodrigues Soares e Conselheiro Federal: https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932010000500002&lng=en&nrm=iso

24 AGOSTO – Dia da Infância

Produção Jaqueline Batista, estagiária em psicologia.

Neste dia 24 de Agosto, é comemorado o dia da infância, data criada pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF, com o propósito de propor uma reflexão sobre as condições de vida das crianças pelo mundo, a fim de superar quaisquer dificuldades e injustiças que venham acontecer.

O sentimento pela infância nem sempre esteve presente, a mortalidade infantil era vista como algo natural, não havia preocupação com estudos ou diversão. Segundo Ariés (1978) não havia lugar para a criança, pois nem nas artes eram retratadas, não era percebido suas necessidades, não sendo vistas como seres dependentes com premências peculiares.

Nesta época eram diferenciadas dos adultos, apenas por seu tamanho, sendo considerado um mini adulto e assim que já tinham certa estatura, eram inseridos na lida, no trabalho para ajudar no sustento da família.

A história brasileira da trajetória da criança é marcada por privações e dificuldades, abusos, maus tratos, abandonos múltiplos, sendo desde de cedo escravizadas de um sistema capitalista. Situação  esta,  marcada por negligências do Estado, família  e da Sociedade em geral.

No Brasil,em tempos atuais, a criança tem seus direitos protegidos por Leis na Constituição Federal de 1988 e no Estatuto da Criança e do Adolescente, respectivamente:

  • Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, 
  • Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.(ECA)
  • Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.

Feitas estas constatações e  diante dos acontecimentos mais recentes com respeito às nossas crianças, somos invadidos por mais de  uma notícia sobre um crime, e trouxemos  aqui apenas para reflexão: 

  • O aborto realizado legalmente em uma criança de 10 anos que foi estuprada no Espírito Santo virou campo de batalha no Brasil”

Segundo BBC News, a menina afirmou sofrer abusos sexuais do tio desde  os 6 anos e ameaçada pelo abusador, se calava. Paulo Sampaio, colunista do UOL, a criança é filha de mãe andarilha, já falecida; o pai está preso e era criada pelos avós. O estuprador, marido da tia da menina, aproveitava os momentos em que ficava sozinho com ela para cometer o crime. (UOL, 2020)

Diante do que sabemos, do que foi nos invadido, sem juízos de valor e apoiado pelo que foi trazido à cima, sobre o sentimento histórico pela infância e olhar para nossas crianças, o que lhes faz pensar?

  • Onde esta o olhar sobre a criança? Quantas negligências foram cometidas?
  • Onde estava o Estado, a família e a comunidade?
  • Quantos traumas foram e continuarão a ser cometidos?

Winnicott, autor psicanalítico, dedicado a estudar a infância,nos trouxe que o trauma era causado em uma criança, quando algo lhe fosse exposto e estivesse além de sua compreensão psíquica, entendamos… Uma criança de 6 anos exposta a uma relação sexual esta sendo agredida, violentada e traumatizada. 

No Brasil, segundo Ministério da Saúde a cada hora, 4 meninas com menos de 13 anos são estupradas, e como média 6 abortos por dia em meninas de 10 a 14 anos.

Referências:

ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Trad. Dora Flaksman. 2ª edição. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1981

FEDERAL, Governo. Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei federal, v. 8, 1990.

MAGENTA , Matheus; ALLEGRETTI, Laís. Brasil registra 6 abortos por dia em meninas entre 10 e 14 anos estupradas. BBC News – Brasil, Londres, 18 ago. 2020. DOI https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53807076. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-53807076. Acesso em: 20 ago. 2020.

PINHEIRO, Roberta de Fatima Alves. A prioridade absoluta na Constituição Federal de 1988: cognição do art. 227 como princípio-garantia dos direitos fundamentais da criança e do adolescente. 2006. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

SAMPAIO, Paulo. A exposição da menina abusada foi um ‘estupro coletivo‘, diz ginecologista: COLUNA PAULO SAMPAIO. UOL, 19 ago. 2020. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/colunas/paulo-sampaio/2020/08/19/a-Exposição-da-menina-abusada-foi-um-estupro-coletivo-diz-ginecologista.htm. Acesso em: 20 ago. 2020.

WINNICOTT, Donald Woods. A capacidade para estar só. O ambiente e os processos de maturação, 1983.

O tempo de telas afeta o atraso do desenvolvimento de crianças pequenas? Sim!


Matéria escrita pelo Pediatra Dr. Renato Coelho – Presidente do Comitê de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul e integrante da equipe da Clínica Horizontes(baseada no artigo publicado pela Medscape).

Este tema tem preocupado a todos que atendem crianças tanto na clínica quanto nas escolas em geral. Assim como os pais e adultos que conviveram ou viveram numa condição, onde isto não era tão intenso e com tanta diversidade de telas e facilidade de acesso.

E os jovens pais, que já cresceram num ambiente eletrônico em plena fase de expansão, não parecem estar refletindo sobre o impacto deste tempo aumentado de exposição às telas pode causar. Parece que quanto mais precoce a criança saber manusear e navegar neste ambiente eletrônico e de mídias sociais, saber usar estes recursos precocemente a tornaria mais esperta.

Mas, e os efeitos negativos quais seriam? O primeiro efeito é tirar o tempo das outras coisas de um dia, que tem o tempo limitado das 24 h. Tempo este dedicado para as necessidades fisiológicas como dormir, comer e se relacionar com ou outras pessoas de forma interativa ao vivo, real e concreta. Assim como as outras atividades educativas, recreativas e esportivas.

Sem parecer retrógrado e negar os avanços tecnológicos e necessários da vida moderna o ato de pensar e refletir sobre ela é necessário.

No contexto clínico os atrasos do desenvolvimento chegam a 1 criança a cada 4 até o início da vida escolar regular, trazendo dificuldades de aprendizagem e escolares em geral.

Aproximadamente 98% das crianças norte-americanas de até 8 anos vivem num casa conectada com internet e passam 2 horas ou mais por dia nas telas.

Usar as evidências científicas auxilia nesta reflexão, uma vez que os fatos constatados sustentam de forma mais sólida um parecer de orientação.

Recente estudo, publicado na respeitada revista JAMA Pediatrics em Janeiro/2019, realizado por Sheri Madigan, Phd pesquisador da Universidade de Calgary,  Canada.

Foi um estudo de coorte longitudinal que recrutou mulheres grávidas e seus bebês após nascerem, entre 2008 e 2010, e os acompanhou por 5 anos. Foram 2441 parelhas de mães-bebês. Os bebês foram avaliados aos 24, 36 e 60 meses de idade, usando-se um instrumento (Ages and Stages Questionary-3) para avaliar o desenvolvimento deles nestas etapas de idade.

As crianças que passam mais tempo nas mídias sociais e nas telas aos 2 e 3 anos de idade tem piores resultados nos testes de triagem de desenvolvimento aos 3-6 anos de idade.

Os resultados confirmam a ligação entre maior tempo de tela e um pobre resultado no desenvolvimento. E outra informação que constataram foi que a queda nos resultados foi precedida pelo excessivo tempo de tela, excluindo uma hipótese de que crianças com atraso teriam mais horas de tela como forma de controlar o comportamento delas.

Há que se tomar medidas educativas do uso consciente destes recursos tecnológicos sob pena de comprometer uma geração de crianças com falhas e atrasos que se somam com o tempo, causando um custo adicional nos recursos de auxílio terapêutico familiar e público. Chegando na vida escolar da graduação com falhas pedagógicas graves e com dificuldades de interação social.

Hallucination: Vida e Obra de Virginia Woolf

Espetáculo Teatral – Hallucination: Vida e Obra de Virginia Woolf

Compre seu ingresso diretamente pelo WhatsApp da Horizontes, clicando no link: https://api.whatsapp.com/send?phone=5551997667377

  • Espetáculo do grupo NEELIC
  • Direção Desirée Pessoa
  • Elenco: Lara Mohana e Luísa Bem Dal Pozzo

Sobre a peça:

Hallucination é um espetáculo que propõe ao espectador um mergulho no universo feminino a partir do encontro com a obra da autora Virginia Woolf. Na encenação, dirigida por Desirée Pessoa e interpretada por Luísa Bem Dal Pozzo e Lara Mohana, é através da evolução da atuação das intérpretes durante o espetáculo que as diversas facetas da autora homenageada vão se revelando: a complexa relação com a irmã Vanessa, é o fio central da narrativa, a qual aborda também a conturbada convivência da artista com o esposo, consigo mesma, com a escrita e, ainda, com as vozes que ouvia nas alucinações constantes, provocadas por severo quadro de depressão.

  • Local: TEATRO CARLOS CARVALHO – Casa de Cultura Mario Quintana
  • Data: 21/10/23, sábado, às 19h
  • Valor Ingresso: R$ 60,00
  • Meia entrada para estudantes e idosos

Após a peça haverá um debate sobre a temática do espetáculo com:

Gabriela Semensato – Doutora em estudos literários, com ênfase em teoria, crítica e comparatismo, pela UFRGS, mestra em literatura comparada e professora licenciada em Letras também pela UFRGS, nas áreas de língua inglesa, língua portuguesa e respectivas literaturas. Realizou formação em teatro e performance na Escola de Teatro do NEELIC e atualmente faz parte do Laboratório de Atuação, Performance e Experimentações Cênicas do NEELIC.

Luciane Slomka – Psicóloga (PUCRS), Psicanalista (CEPdePA), especialista em Psico-Oncologia (PUCRS), autora do livro “A palavra umbilical” (Patuá, 2023). Professora do curso de Psicologia da UNISINOS.

Nicole Abreu Tartarelli – Psicóloga pela PUCRS, psicoterapeuta de orientação psicanalítica pelo Instituto Horizontes. Supervisora. Ministra seminários para estágio e formação na clínica e Instituto Horizontes.

Organização: Instituto de Ensino Horizontes

Setembro Amarelo

Se informar para aprender e ajudar o próximo é a melhor saída para lutar contra esse problema tão grave. É muito importante que as pessoas próximas saibam identificar que alguém está pensando em se matar e a ajude, tendo uma escuta ativa e sem julgamentos, mostrar que está disponível para ajudar e demonstrar empatia, mas principalmente levando-a ao médico psiquiatra e/ou psicólogo, que vai saber como manejar a situação..

 Atualmente, o Setembro Amarelo® é a maior campanha anti estigma do mundo! Em 2022, o lema é “A vida é a melhor escolha!”

De olho na depressão!
A depressão é um transtorno comum em todo o mundo: estima-se que mais de 300 milhões de pessoas sofram com ele. A condição é diferente das flutuações usuais de humor e das respostas emocionais de curta duração aos desafios da vida cotidiana. Especialmente quando de longa duração e com intensidade moderada ou grave, a depressão pode se tornar uma crítica condição de saúde. Ela pode causar à pessoa afetada um grande sofrimento e disfunção no trabalho, na escola ou no meio familiar. Na pior das hipóteses, a depressão pode levar ao suicídio. Por isso é importante procurar ajuda de uma especialista, assim que a pessoa perceba que o “desânimo” ou tristeza estão se estendendo além do esperado.

Ansiedade também é um fator de risco!

Este transtorno é caracterizado por uma preocupação excessiva com eventos futuros, autocobrança e dificuldade de relaxamento e de percepção do tempo presente, que dura pelo menos seis meses. Os principais sintomas são irritabilidade, dificuldades de concentração, tensão muscular, alterações no sono e, em alguns casos, a ansiedade pode causar sintomas físicos, como taquicardia, sudorese, tremores, gastrite, dores de cabeça, assim como alterações intestinais e do ciclo menstrual. É dividida entre leve e grave e causa diversos prejuízos na vida da pessoa. Por isso é fundamental a busca por terapia e em alguns casos, medicamentos.

TRANSTORNOS ALIMENTARES: O QUE SÃO E COMO TRATÁ-LOS?

Transtornos alimentares são considerados transtornos psicopatológicos associados com a ingestão de alimentos e a sua repercussão para a autoimagem. Eles dizem respeito aos hábitos alimentares de uma pessoa e um uso disfuncional da alimentação, causando problemas graves à saúde física e mental.

Os transtornos mais conhecidos são:

ANOREXIA NERVOSA: quando há a baixa (ou nenhuma) ingestão de alimento e/ou líquidos, levando a agravamentos severos da saúde física, como anemia ou leucemia. A anorexia tem uma repercussão na autoimagem, levando, por vezes, a alterações perceptivas (delírios) em relação à percepção do próprio corpo (por exemplo, ver o corpo “maior” ou “mais disforme” do que ele é).

BULIMIA: consiste na ingestão impulsiva de alimentos calóricos ou em grande quantidade e, posteriormente, o uso de comportamentos compensatórios (como o vômito, a ingestão de medicações ou chás laxativos, a prática exagerada de exercícios físicos, jejuns etc.). A Bulimia também pode ocasionar sérios problemas à saúde.

T.A.R.E.: o Transtorno Alimentar Restritivo-Evitativo (TARE) consiste no uso severo de dietas ou protocolos alimentares, causando impacto na nutrição e saúde. O TARE é um transtorno insidioso e pode, algumas vezes, ser confundido como uma “dieta rigorosa” ou uma “exigência muito alta” sobre os tipos de alimentos ingeridos.

COMPULSÃO ALIMENTAR: causa mais frequente do ganho de peso, a compulsão alimentar consiste na ingestão exagerada de alimentos. Nesses quadros, os indivíduos comem sem apetite e o hábito compulsivo supre ansiedades ou elementos depressivos. É comum chegarem-se a níveis extremos como obesidade ou diabetes em função da compulsão alimentar.

Todos esses transtornos devem ser tratados de forma imediata e exigem acompanhamento interdisciplinar, por psicólogo, psiquiatra e nutricionista. Ainda, alguns quadros, como a anorexia nervosa severa ou a compulsão alimentar crônica, associada a outros quadros psicopatológicos, podem exigir o uso de medicação antipsicótica e, inclusive, internação hospitalar.

O estigma contra essas síndromes é muito alto e é importante não culpabilizar o acometido pelo transtorno alimentar. Suas causas são complexas e, assim qualquer outra psicopatologia, possuem necessidade de acolhimento e tratamento.

Sobre o autor: Willian Krüger (CRP 07/35028) é psicólogo formado pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), com mestrado em andamento pela mesma instituição na área de Psicologia Clínica. É especializando em psicoterapia psicanalítica pelo Instituto de Ensino Horizontes (IEH). Possui expertise no tratamento de ansiedade e depressão, bem como em processos psicossociais, saúde e desenvolvimento. Ele é parte do corpo clínico da Clínica Horizontes.

Estou ansioso, e agora?

A ansiedade é um dos sintomas mais comuns dos nossos tempos. Algumas pessoas dizem que o lugar que era ocupado pela depressão, como o “mal do século”, hoje seria ocupado pela ansiedade. Mas a pergunta fica: como reconhecê-la e tratá-la?

Inicialmente, precisamos definir o que é esse fenômeno. A ansiedade é uma manifestação sintomática, ou seja, ela é CONSEQUÊNCIA de algum fator estressor, como sobrecarga de trabalho, luto, problemas conjugais, distúrbios corporais ou excesso de responsabilidade.

A ansiedade surge como uma reação emocional a esses fatores estressores, e normalmente pode ser descrita como uma ANGÚSTIA de antecipação: ficamos ansiosos porque pensamos ou experienciamos situações que parecem incontroláveis ou inescapáveis, o que nos gera sensações de medo e evitação, antes mesmo dos problemas acontecerem.

Quadros ansiosos são marcados por muitos sintomas físicos, como palpitações, calafrios, enjoos, tonturas e, em formas generalizadas, insônias e dores de cabeça. A irritação é uma resposta muito frequente a estados de angústia. Quando não tratada, a ansiedade pode se instaurar como síndromes do pânico, transtornos de ansiedade generalizada ou transtornos obsessivos-compulsivos.

O tratamento da ansiedade pode se dar sob três vias: psicoterapêutica, farmacológica e ocupacional. A via psicoterapêutica consiste no acompanhamento com um psicólogo dentro de um regime de psicoterapia. Isto significa trabalhar as causas da ansiedade e sua repercussão emocional na vida do indivíduo. A psicoterapia é a principal e mais eficiente forma de tratamento.

A via farmacológica se trata da ingestão de remédios para controle dos quadros ansiosos a curto e médio prazo. Normalmente seu uso é recursado para sintomas graves ou cronificados, sendo indicado por médico psiquiatra.

A abordagem ocupacional atinge o conjunto de hábitos e padrões disfuncionais que aumentam a ansiedade natural. Isto significa um replanejamento da rotina, reavaliação dos hábitos alimentares (diminuição de estimulantes e alimentos processados, que cientificamente são associados com o aumento da ansiedade), aumento de atividades físicas, controle da rotina de trabalho (adaptação e melhoria da jornada de trabalho) e, por fim, a higiene do sono e dos hábitos de lazer.

Esse conjunto de práticas ajuda na diminuição aguda da ansiedade e aumento da qualidade de vida. A angústia crônica pode ocasionar graves perdas ocupacionais e pessoais e deve ser enfrentada de forma séria e imediata. Sobretudo o medo do descontrole e do abandono (sentimentos frequentemente apontados como a causa “primitiva” da ansiedade) devem ser trabalhados terapeuticamente, ressignificando seu lugar no dia a dia da pessoa acometida.

E aí? Você se considera uma pessoa ansiosa e gostaria de tratar esse problema?

Aqui na Clínica Horizontes contamos com um time de psicólogos e psiquiatras que podem te ajudar a tratar esse conjunto de sintomas de forma segura, rápida e permanente.

Confere nosso site e marca uma primeira consulta!

Sobre o autor: Willian Krüger (CRP 07/35028) é psicólogo formado pela Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), com mestrado em andamento pela mesma instituição na área de Psicologia Clínica. É especializando em psicoterapia psicanalítica pelo Instituto de Ensino Horizontes (IEH). Possui expertise no tratamento de ansiedade e depressão, bem como em processos psicossociais, saúde e desenvolvimento. Ele é parte do corpo clínico da Clínica Horizontes.

BURNOUT E A SAÚDE MENTAL

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou recentemente a Síndrome do Trabalhador Esgotado (Burnout) como uma doença reconhecida na Classificação Internacional de Doenças (CID), tendo relação cientificamente comprovada com o esgotamento psicológico causado pelo trabalho.


Os principais sintomas do Burnout são: agressividade, isolamento, ansiedade generalizada, dificuldade grave de concentração, lapsos de memória, baixa auto-estima e ausências no trabalho ocasionadas por esgotamento. É comum o sujeito em Burnout começar a criar pretextos para faltar ao trabalho. O esgotamento físico (fadiga, insônia, perda de apetite e natural enfraquecimento corporal) também está associado à piora do desempenho no ambiente laboral. Há associação entre o uso de substâncias psicoativas (e.g., álcool, cigarro e maconha) e o Burnout.

Atualmente, a prevalência da síndrome nas categorias mais afetadas (bancários, enfermeiros, médicos, professores e policiais) gira em torno de 50%. Estudos apontam que, de forma geral, pelo menos 30% de todos os trabalhadores brasileiros, em todas as categorias, apresentem associação com a doença. O Burnout é mais prevalente em homens entre 30 e 50 anos, embora seja muito frequente em mulheres da mesma faixa-etária.

O Burnout é uma síndrome insidiosa e crônica, apresentando evolução lenta. Entretanto, quando instaurado, pode trazer danos devastadores à vida do sujeito. Seu tratamento é majoritariamente feito por psicoterapia e uso de antidepressivos. O afastamento da rotina estressante ou do ambiente laboral tóxico deve ser imediato. É possível obter
licença médica por portar Burnout, inclusive dando direito à aposentadoria por invalidez, quando as consequências pela doença tiverem sido comprovadamente irreversíveis.


Portanto, para o caso de você estar sentindo alto esgotamento físico e emocional relacionado ao trabalho, estar fazendo uso frequente de substâncias estimulantes ou relaxantes (como café, álcool e cigarro) para conseguir trabalhar, nota sua produtividade diminuir enormemente e suas relações profissionais e pessoais estarem desgastadas,
procure um psicólogo ou um psiquiatra. Ainda, fale com o RH da sua empresa. O Burnout é uma síndrome série e merece cuidados precoces. O seu tratamento tem alta eficiência quando realizado de forma controlada e nos primeiros estágios da doença.


Neste Janeiro Branco, precisamos falar sobre saúde mental no trabalho. Cuide de você e daquilo que você faz no seu dia a dia. Saúde mental no trabalho é coisa séria!

Outros textos que falam sobre o Burnout:

https://www.rbmt.org.br/details/91/pt-BR/prevalencia-de-sindrome-de-burnout-em-professores-medicos-de-uma-universidade-publica-em-belem-do-para
https://www.scielo.br/j/csp/a/pc7N3MpyPZGTkWLVXYtWhKN/?lang=pt

Dia Mundial de Luta contra a AIDS

No dia 1º de dezembro comemoramos o Dia Mundial de Luta Contra a AIDS. Esse dia marca a importância de pensarmos sobre a prevenção ao HIV/AIDS, bem como na melhoria da qualidade de vida das pessoas que vivem com o vírus.


Segundo pesquisa conduzida por estudiosos americanos, o HIV surgiu em meados dos anos 20, na República Democrática do Congo. Mas somente com a epidemia ocorrida nas Europas e nas Américas, na década de 80, que seu
conhecimento chegou a vias públicas. Com o “boom” de infecções pelo vírus, a doença se tornou uma questão de saúde global.


Atualmente, estima-se que 37 milhões de pessoas no mundo inteiro vivam com HIV. Delas, quase 1 milhão ocupam território brasileiro. A qualidade de vida e o acesso à medicamentos e recursos em saúde para pessoas que vivem com o vírus melhorou exponencialmente, desde a epidemia dos anos 80. Hoje em dia o HIV é reconhecido como uma doença crônica e controlável, apresentando ótima resposta ao tratamento antirretroviral. Pessoas que vivem com HIV tem expectativa e qualidade de vida iguais às pessoas que não infectadas.


Entende-se, inclusive, que pessoas que seguem o tratamento antirretroviral corretamente, e possuem exames indetectáveis de carga viral, são pessoas que não transmitem o vírus. Isto é, ser indetectável para o HIV significa,
também, ser intransmissível (I=I). Isso representa um enorme avanço às políticas de saúde e condições plenas para pessoas soropositivas.

Assim, o fator de maior preocupação sobre as infecções ao HIV continua sendo a sua estigmatização e a marginalização. É importante destacar o papel das campanhas contra preconceito e violências simbólicas relacionadas a essa questão de saúde. É preciso pautar o tema em diferentes espaços de convivência para que, cada vez mais, sujeitos sejam respeitados em sua integralidade e não tenham direitos limitados pela sua sorologia.

O dia mundial de luta contra a AIDS representa um marco político de garantia de direito e respeito à diversidade e à vida. Diminuir o número de infecções pelo vírus, assim como assegurar qualidade de vida e acesso a saúde, é um
dever da sociedade como um todo, dentro de uma luta por diminuição da desigualdade e da violência simbólica.

William Maciel Kruger – Psicólogo

Dia da Consciência Negra

Autora: Jaqueline Batista, Graduanda em Psicologia, Coord. Grupo Intelectuais da
Negritude, Formanda em Psicologia Humanista

“Exu matou um pássaro ontem,
com uma pedra que só jogou hoje”
ditado Ioruba

No mês em que comemoramos o dia Nacional da Consciência Negra, 20 de novembro, me pergunto o que eu, uma mulher Negra, periférica, estudante de psicologia, poderia trazer ? O que deixar a quem ler este texto?

  • Alimente-se!

Na psicanálise, aprendemos que somos sujeitos da relação, estamos constantemente tentando resolver algo que se constituiu na relação com um outro. E quem seria este outro?

Em Lacan temos um Grande Outro, aquele com quem o sujeito se relaciona e tenta a todo tempo, inconscientemente, agradar. Através desta perspectiva, faz sentido pensar que, para que o homem habite a sua morada, deva antes, entender o que em seu corpo não lhe pertence, para a partir daí fazer suas próprias escolhas.

  • Somos livres?

É simples demais achar que sou livre para escolher o que eu quiser ser, já que Winnicott em sua imensa obra nos conta que o homem nasce numa dependência absoluta.
E se somos seres dependentes quem nos liberta para a independência?

O outro, voltamos a Lacan? Não, hoje vamos por um outro caminho.

Neuza Santos Souza, em seu livro Torna-se Negro, nos traz um pouco de como o Negro agride seu corpo, sua imagem, instigado por um Grande Outro, o qual tem total domínio da historicidade constitutiva da Negritude. A leitura da obra transforma, entramos em contato com a experiência traumática vivida pela autora, o negro visto como coisa, de ser feito objeto. Neusa expõe pensamentos profundos e incômodos sobre o dispêndio afetivo do assujeitamento, da negação cultural e da negação do próprio corpo negro. E o quanto é sofrido quando o sujeito busca ascensão social, e esse empenho para chegar onde se quer, fica às custas de negar sua identidade, quem se é. E neste caso o Grande Outro passa a ser o branco como ideal a ser alcançado.

Neusa (1983,p 17) escreve em seu livro:

“Saber-se negra é viver a experiência de
ter sido massacrada em sua identidade,
confundida em suas expectativas,
submetida a exigências, compelida a
expectativas alienadas”

Torna-se negro é tarefa difícil ainda hoje? Segundo Fanon (2008, p.26):

“Existe uma zona do não ser, uma
região extraordinariamente estéril e árida, uma
encosta perfeitamente nua, de onde pode brotar
uma aparição autêntica. Na maior parte dos
casos, o negro não goza da regalia de
empreender essa descida ao verdadeiro inferno”

A busca por tornar-se negro, implica renunciar a toda uma história que nos foi contata e que acreditamos ser real, fazer uma escolha por viver quem se é, e antes de tudo livrar-se do que não nos pertence. Um longo caminho doloroso a ser percorrido, alguns talvez não queiram e escolham ficar onde estão, outros nem tenham a consciência de que este caminho exista e outros farão a viagem, Sankofa, segundo Abdias do Nascimento(2020), o conceito que traduz-se por “retornar ao passado para ressignificar o presente e construir o futuro”.

Alimente-se, para fazermos uma escolha, precisamos de saberes, e não únicos, pois corremos o risco de sermos induzidos e traídos pelo véu de quem nos conta. Assim como Chimamanda Ngozi trás em seu livro, O perigo de uma História Única, onde a autora fala com delicadeza de estórias da sua infância que nos ensinam muito.

Implique-se, no seu livro Pequeno Manual Antirracista, Djamila Ribeiro, apresenta uma série de “dicas” que podem ser seguidas por todos nós: informe-se sobre o racismo, enxergue a negritude, reconheça os privilégios da branquitude, perceba o racismo internalizado em você, apoie políticas educacionais afirmativas, transforme seu ambiente de trabalho, leia autores negros, questione a cultura que você consome, conheça seus desejos e afetos, combata a violência racial e sejamos todos antirracistas.

Este é apenas o sumário apresentado no livro, mas que por si só, já nos diz que é preciso uma trajetória. O que se assemelha a outros intelectuais negros, que também nos falam em suas obras desse “caminho de volta” para a autenticidade.

Neste 20 de Novembro, em comemoração ao dia da Consciência Negra, estejamos todos implicados numa luta pela igualdade, uma batalha que não deve ser travada sozinho, já que é na relação com o outro que nos constituímos, cabe a nós prezarmos por uma relação sem dominância e livre de (pre)conceitos.

Referências:
Adichie, C. N. (2019). O perigo de uma história única. Brasil: Companhia das Letras.
Fanon, F. (2020). Pele negra, máscaras brancas. Brasil: Ubu Editora.
Nascimento, A. (2020). Ocupação Abdias Nascimento – Ocupação. Itaú Cultural.
Souza, N. S. (1983). Tornar-se negro, ou, As vicissitudes da identidade do negro brasileiro
em ascensão social. Brasil: Graal.
Ribeiro, D. (2019). Pequeno manual antirracista. Brasil: Companhia das Letra
s.

Apresentação Livro “Ensaios sobre Reprodução Assistida, Parentalidades e Adoção”

Apresentação escrita por Josiane Weiss

Livro organizado por Renata Viola Vives

Olho para trás, para a história da humanidade. O Homo Erectus foi capaz de revolucionar seu tempo ao produzir facas e ferramentas feitas de lascas de pedras. Quatrocentos mil anos atrás começam a surgir os Neandertais, que as aperfeiçoam e começam a se deslocar pela Europa e Ásia. Diferenciando-se destes, em torno de trezentos mil anos atrás o Homo sapiens aparece na África e só a 50 mil anos atrás chega à Europa. O Homo Sapiens evoluiu a um tal grau de sofisticação cognitiva que lhe permitiu conquistar e dominar o mundo e as outras formas de vida. Nesse espaço temporal, foi capaz até de reproduzir nossa arquitetura cerebral em microchips que comandam linhas de produção, armazenam trilhões de informações em nuvens, e nos interligam, a despeito de qualquer distância. Também ousou aventurar-se no Universo para além de nossa órbita terrestre. 

Mas o Homo Sapiens, como bem nos descreve o historiador Yural Harari, quer mais. Promover-se à condição de Homo Deus. Se a felicidade constante e a imortalidade não foram de todo dominadas, já garantiu o controle de seu próprio substrato biológico. Ao manipular células e gametas, foi capaz de criar vida humana fora de um corpo, como Deus!

Inquieta, dando sequência as suas Reflexões Psicanalíticas sobre a Reprodução Assistida (2019), Renata Viola Vives divide conosco seus ensaios sobre Reprodução Assistida, Parentalidade e Adoção, e organiza uma nova coletânea com ensaios de importantes nomes do cenário psicanalítico latino-americano sobre seus trabalhos e questionamentos sobre esta temática. Além de ensaios da própria Renata Vives, este nome livro traz o pensamento de Gina Levinzon, Gley Pacheco Costa, José Galeano, Juliana Roberto, Kimberly Fernandes, Nathalia Vieira, Patrícia Alkolombre, Patrícia Gramacho e Sara Fagundes.

São textos sobre os diversos desdobramentos que a Reprodução assistida vem trazendo à nossa clínica psicanalítica cotidiana. O desejo de filho, desejo de quê filho, desejo de filho a que tempo, assim como o desejo de não filho, habitam campos fantasmáticos tanto de mulheres como de homens. A mulher segue gestando, mas o homem também deseja. Não há limites temporais, espaciais ou biológicos para que o Homo Deus satisfaça seus desejos.

Ah! Essa ânsia, essa fome do humano sempre frustrado e querendo subverter seus limites, o interditado. As tecnologias de reprodução Assistida quase tudo permitem. Mas, como os autores deste livro muito bem colocam, trazem consigo novas subjetividades (inclusive para os indivíduos desta forma gerados). Abordam também o impacto e repercussões destas técnicas sobre as novas formas de parentalidade, sobre questões éticas  e bioéticas.

Aqui podemos também refletir sobre os caminhos de resolução para a infertilidade de um casal que antes passavam pela adoção de um filho já nascido, e que agora percorrem os caminhos da ovodoação. Surgem novas perguntas. Até quantos filhos espalhados pelo mundo poderá gerar um esperma-doador? A genética aqui reproduzida enquadra estes novos seres na categoria de meio-irmãos? E se estes sem saber sexualmente vierem a se relacionar, seria incesto? 

Os autores lembram ainda que na reprodução assistida sempre haverá um terceiro intermediando o desejo de dois de um filho. Prazer sexual e prazer de gerar deixam de ser vinculadores. Agora nos é permitido gerar filhos até com nossas mães, por barrigas de substituição.

A coletânea ainda nos traz reflexões sobre o luto da descontinuidade genética nos casos em que óvulos ou esperma precisam ser de doadores. Passada a euforia inicial do sucesso do procedimento, surge o sentimento do estranho: Meu filho poderá até assemelhar-se a mim, mas nunca será como eu. E isto precisa ser falado, ser tratado. Também nas sessões de terapia aparece o drama do descarte de óvulos ou embriões congelados e não mais desejados, ou a ambivalência entre o desejo de repetir o processo assistido e o temor de um novo fracasso significado pelo abortamento espontâneo. Homens não gestam, não abortam, mas também precisam ser acompanhados neste processo.

E até mesmo o amor, o que é o amor? Amor enquanto fonte constante de prazer ou desprazer? O amor materno que sustenta o início da vida, nascido do desejo narcísico de ser eternamente correspondido, poderá ser sustentado se o corpo gerado é sentido como pedaços de outra ou de outro desconhecido? Como o Sapiens, do alto de sua racionalidade lidará com a falta de registros psíquicos que deem conta disso sem perder sua condição de pretenso Homo Deus?  É com estas e outras mais vivências clínicas, inquietações e elaborações que os autores nos convidam à leitura desta obra. Uma aventura instigante!

BANZO

Como pensar o suicídio e a saúde mental da população negra, desde que estamos no Mês Setembro Amarelo, na campanha de combate e prevenção do suicídio que percebe a necessidade de rompermos o
silêncio que paira sobre esse tema?

Texto por Cristiane Feijó Corrêa – Psicóloga Social. Promotora Legal Popular em formação / Balcão da Cidadania / Pulsão Democrática / Membro do Grupo de Leituras Intelectuais da Negritude / Pesquisadora em Relações Étnico Raciais

Em fevereiro de 2021, participei de uma experiência cênica online chamada “Clínica Pública de Análise Política” [C.P.A.P], parte integrante da pesquisa Exercícios de Transgressão: A candidatura presidencial como prática de liberdade, que consistia em 6 sessões de análise política com a presença e atuação do ator paulista Caio Cesar Andrade Costa.

Nesta clínica performativa, o público seria composto por uma pessoa numa interação/interlocução com o ator podendo escolher entre os papéis de analista ou analisado.

Escolhi ser analista, para a surpresa do performer, um homem branco, jovem, de pele clara e cabelo crespos como os de um negro mestiço.

De minha parte, a mulher negra que sou também foi surpreendida com um “paciente que vestia roupas femininas e usava maquiagem, numa caracterização de personagem que critica a cisgeneridade.

Dos muitos temas trazidos para as sessões, persistia a impossibilidade de agência política no cenário atual brasileiro somado a um sentimento de impotência e da constante percepção de que não fazemos o suficiente para contornar as crises sociais que nos assolam, enquanto coletividade, ou seja, enquanto cidadãos de um país chamado Brasil.

Ironicamente, ao contrário dessas conclusões sobre a imobilidade e inércia do cidadão brasileiro, o “(im)paciente” tinha muitas atividades políticas para além das artes cênicas: pai de adolescente, cuidador, ativista nas questões indígenas,
produtor cultural, entregador ciclista, estudante, leitor, criador.

A conta sempre aberta que não fecha, essa equação do “muito fazer vezes o pouco perceber fazer” tem como produto um excesso que massacra e foi por esse caminho que chegamos ou retornamos ao termo Banzo.

Definimos Banzo como um estado de desterro, desapropriação, isolamento, saudade de uma terra que ficou longe de ser habitada, que desconhecemos.

Sentimos o Banzo como uma dormência, um formigamento de uma parte de si mesmo que está ali, mas permanece inerte, sem resposta.

O mesmo Banzo que fez com que escravos tirassem a própria vida comendo terra como forma de fugir ao holocausto da escravidão, e que seguissem desistindo de viver na precariedade do pós-abolição.

Banzo/apatia, Banzo/apartheid, Banzo/desconexão com a própria terra e que faz engolir toda a violência da terra/Estado no qual se vê sendo suicidado a cada dia.

São mulheres negras, jovens negros, crianças negras as maiores vítimas do suicídio perpetrado por uma sociedade estruturalmente racista. Também são vítimas do assassinato e da violência, da exclusão, da marginalização.

O Estado Necropolítico atinge também as pessoas não negras, que foram jogadas para fora da corrida neoliberal e meritocrática, ampliando um contingente de excluídos diante de uma pequena parcela de privilegiados.

Nesta perspectiva social, como pensar o suicídio e a saúde mental da população negra, desde que estamos no Mês Setembro Amarelo, na campanha de combate e prevenção do suicídio que percebe a necessidade de rompermos o
silêncio que paira sobre esse tema?

A Psicologia comprometida com a racialização das questões de saúde mental precisa observar que existe uma interseccionalidade nos fatores que abrangem a questão e que se torna imprescindível considerar as estruturas e perversidades do racismo que mantém um sistema de exploração, preconceito e exclusão de corpos políticos inaptos à travar a batalha meritocrática.

O teatro performativo da Clínica Pública de Análise Política informou algo muito importante para pensarmos a clínica e a prática em psicologia em suas diversas abordagens: a origem social do sofrimento quando se possui um corpo
determinado pela sociedade, como é o caso dos negros, indígenas, trans, deficientes, velhos, crianças e adolescentes…

É tempo de perguntarmos, como o faz Denise Ferreira da Costa em seu livro A Dívida Impagável: Por que a morte de jovens negros não causa uma crise ético-moral global?